A moça chegou com ares de vitoriosa.
Mostrou a capa da Ilustrada de sexta a me desafiar. Lá está a reportagem sobre a axé-music. Uma indústria em plena ascensão, diz a matéria e comprova: é a música que mais se ouve no País, a mais lucrativa do mundo dos espetáculos, a mais isso, a mais aquilo, a mais mais em tudo.
Nas turbulências dos vinte anos, não entende como alguém pode ser feliz neste mundo sem se deixar embalar por Ivetes, Claudinhas, Chiclets e afins.
Acho que ouviu a minha estranheza ao gênero em alguma palestra sobre jornalismo e mpb.
Falo demais às vezes. Ou quase sempre.
Enfim…
II.
Leio na reportagem o que diz um dos empresários do ramo.
A axé conseguiu unir o entretenimento ao beijo na boca.
Ô loco, meu – diria o Faustão
As palavras do moço:
"A música baiana conseguiu algo único: ela vende beijo na boca. No show de rock, fica todo mundo olhando para o palco e ninguém pega ninguém. No axé, pode estar a Ivete tocando, mas o cara está interessado é em beijar, e está cheio de garotas para beijá-lo".
Eis aí, menina, um assunto polêmico.
Talvez fosse mais conveniente eu parar aqui. No simples registro.
Mas, sei lá, não me seguro. Vontade de provocá-la.
III.
Para ser honesto, moça, vou ficar lhe devendo o reconhecimento da tal grandeza musical do axé. No fundo, ninguém perde nada com isso. Nem eu, nem você; muito menos o milionário negócio made in Bahia.
Até porque, convenhamos, sou um cara do século 20 e sei de toda uma geração de baianos que considero bem mais inspirados, verdadeiramente representativos para a tal linha evolutiva da MPB. De pronto, lembro Caymmi, João Gilberto, Caetano e Gil e Novos Baianos, estes que seguraram uma barra legal nos chumbados anos 70.
Por outra, sei também que, em termos artísticos e culturais, é assim mesmo.
Desde que o mundo é mundo, vive-se na tal roda-gigante. Sempre com altos e baixos.
Por isso, dá para se conformar e esperar tempos mais encantados.
Agora, é a questão comportamental que me preocupa.
E não é nem pela tal beijação, vou logo explicando.
Que coisa pior – ou melhor? – gerações passadas também fizeram e desfizeram.
Não sou eu que vou embaçar a dos mais jovens – e alguns nem tanto, que também aproveitam a onda, é bom que se diga.
O que me preocupa, digo logo, é o “efeito rodízio”.
Sobre isso falaremos amanhã, ok?