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A Moça do Tempo lhe lembrou alguém

Não sabia exatamente o quê.

Algo na voz da moça da TV que anda entre nuvens e números o fez lembrar alguém que não deveria ou gostaria de lembrar.

Talvez por isso desprezou o conselho que ouviu:

O tempo vai mudar.

“Preparem-se! As temperaturas vão baixar drasticamente no fim de semana, com chuva intermitente em todo o litoral paulista”.

Para ser sincero, de um tempo para cá, as previsões lhe são indiferentes como quase tudo o que lhe acontece.

Viajou mesmoa assim.

Chuva ou sol, tanto lhe faz como lhe fez.

Certa feita levou fé nas promessas que lhe fizeram nesse mesmo tom de voz – e, bem, hoje ele prefere não lembrar.

II.

Dito e feito.

Ele procura o agasalho para sair à varanda do apartamento – e olhar o mar.

Gosta de olhar o mar.

Apesar de que, nesta manhã, ele quase não o vê; tamanha a névoa que envolve a superfície das águas e encurta a linha do infinito.

Mesmo sem ir além, sente-se satisfeito.

Como de hábito, nada mais pede ou anseia.

III.

Domingo, por volta do meio-dia.

Só agora aparecem os primeiros meninos surfistas dispostos a enfrentar as ondas que estão bravas. São três ali, mais dois acolá; pontos móveis, distantes, que se perdem e embaralham no horizonte e no próprio conformismo.

Vencem, com destreza, a estreita faixa de areia.

Lançam-se ao mar, feito enguias, feitos sonhos dispersos.

Buscam a onda certa.

A perfeição.

Em silêncio, ele os vê.

Respeita e admira a coragem dos que ousam e sabe ir além.

IV.

Nunca foi surfista.

Mas, entende o entusiasmo dos garotos.

Houve um tempo em que no amor, para ele, não havia tempo ruim.

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