Hélio Burini ou Ademir da Guia?
Idos de 1963, o maior craque do Palmeiras era o camisa 10, Chinezinho, que acabara de ser vendido para a Itália. Lembro-me que a italianada discutia à exaustão quem deveria sucedê-lo.
Uns queriam Burini, formado nas categorias de base do time.
Outros – meu pai, inclusive – apostavam no talento do garoto sarara que acabara de chegar do Bangu.
Eu era garoto – e gostava de acompanhar aquelas discussões na noite de domingo, no Bar Astória, ali, na rua Lavapés.
Sempre sobrava um guaraná “caçulinha” e umas balas toffes para o Tchinim, que era como me chamavam.
Às vezes, eu achava que dois ou três deles iriam se pegar, de tão acaloradas que eram as discussões.
Mas, não passavam disso: discussões.
Logo uma nova rodada de cerveja era posta na mesa – e os amigos enveredavam para outros assuntos. Isto quando não punham a cantar canções napolitanas. Claro que o auge era quando todos, visivelmente calibrados e emocionados, entoavam O Sole Mio.
Era hora de o Bar descer as pesadas portas de ferro – e todos irem para casa que, na segunda cedo, estavam no batente.
E a vida recomeçava na santa paz.
No próximo jogo, os amigos seguiam de ônibus até o estádio, fosse no Pacaembu, fosse no Palestra – e aplaudiam o time do começo ao fim da partida.
Jogasse Burini ou jogasse Da Guia, o filho do Divino, era dia de júbilo.
Afinal, não havia alegria maior para aquela turma – que chegou a ir ao Maracanã na final da Copa Rio em 1951 – do que ver o Palmeiras em campo.
Claro que escrevo essas linhas, a partir do episódio Diego Souza (que agora dizem, ironia das ironias, pode acabar no Corinthians). Mas, escrevo também porque algumas virtudes essenciais à vida – ao esporte – parecem que se perderam inexoravelmente…
É de se lamentar tanta estupidez e ignomínia.
** FOTO NO BLOG: Milão/arquivo pessoal