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A primeira vez do Jô

Uma conversa com os amigos Paulo Ferreira e Marcelo na manhã de hoje trouxe à tona recordações de tempos idos (meados dos anos 60) quando a TV Record era líder absoluta de audiência. Para tanto, a empresa da família Machado de Carvalho amparava-se numa diversificada programação musical, mas tinha lá suas atrações também na área do humor. Basta lembrar o retumbante sucesso da Família Trapo, com inesquecíveis atuações de Ronald Golias, Renata Fronzi, Otelo Zeloni e Jô Soares, entre outros.

Eles falaram que eu deveria reunir casos e causos em um livro.

(Foram gentis, afinal são meus amigos.)

Fiquei todo pimpão com o elogio – e, deslumbrado, resolvi mostrar mais conhecimento.

Bobinho eu, né?

II.

Curioso que nesse barulho acabei por lembrar a primeira vez que vi Jô Soares.

Ele participou de um Show do Dia 7 (que era um espetáculo de gala que, mensalmente, reunia todo o cast de contratados da Record) e contou a seguinte piada.

III.

O dono de um possante Camaro resolveu dar umas voltas pela cidade para estrear o carro novo. Homem de bom coração, ficou sensibilizado quando viu uma Romiseta (modelo de carro com uma só porta e tão pequenino que só cabia o motorista) parada no meio fio e seu proprietário com ar de desconsolo.

Ele parou sua ‘super máquina’ e ofereceu ajuda.

A Romiseta estava sem combustível e o dono do Camaro não se importunou em rebocá-la até o primeiro posto.

Antes, porém, fez a recomendação:

“Qualquer dúvida, o amigo buzina que eu paro.”

Acordo fechado. Seguiram adiante.

O Camaro à frente, puxando a Romiseta, ligado por um cabo de aço.

IV.

Tudo ia bem, na maior tranqüilidade.

Mas, o imprevisto aconteceu: eis que surge um Mustang vermelho, rangendo motor a provocar o dono do Camaro para um racha.

O homem ainda tentou relutar. Mas, uma ‘fechada’ proposital e olhar de pouco caso do motorista do Mustang lhe tiraram toda e qualquer noção de realidade.

Ele topou o desafio.

Esqueceu totalmente a Romiseta engatada ao Camaro.

V.

Os carrões começaram a serpentear as ruas da cidade.

E o motorista da Romiseta a buzinar insistentemente.

Em vão…

O Camaro e o Mustang encaminharam-se para a Estrada de Santos, indiferentes aos faróis vermelhos e às mãos de direção.

Seguiam lado a lado a milhão.

E a Romiseta num buzinaço sem fim.

VI.

100, 120, 130, 140, 150 km por hora.

Eles voavam baixo na disputa que parecia sem fim.

Nem perceberam a presença de uma viatura da Polícia Rodoviária que acionou a sirene e se dispôs a segui-los.

VII.

150, 160… 180 km por hora.

O policial desistiu da perseguição. Resolveu passar um rádio para os colegas que estavam em um posto à frente.

Eles poderiam fazer um bloqueio e interceptá-los.

Pensou bem – e resolveu descrever a cena.

“Alô, viatura XPQ falando, policial Lindauro, do posto 1 da Via Anchieta. Alerta. Alerta. Alerta. Preparem bloqueio. Motoristas ensandecidos, a 180 por hora, põem em risco vidas humanas. Favor interceptá-los, câmbio”

“Respondendo à viatura XPQ. Por favor detalhe melhor o que está acontecendo. Diga quais são os veículos envolvidos, câmbio.”

VIII.

Sem outra opção, Lindauro teve que se ater, mesmo constrangido, à verdade dos fatos:

“Positivo. Trata-se de um Camaro e um Mustang, como disse a 180 por horas, e, acredite se quiser, com uma Romiseta buzinando e pedindo passagem.”

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