Bem a propósito do texto que ontem escrevi e postei, a amiga e jornalista Leila Kiyomura me encaminhq a foto (também de sua autoria) que hoje ilustra nossa página.
A legenda:
Resistir é a regra.
…
Somos dois dos raros sobreviventes da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.
O lema de então, inspirado nas palavras do venerando Tonico Marques, era:
Dar vez e voz aos que não tem voz e vez.
Assim fazíamos dia após dia em nossa lida pelas quebradas do Sacomã e das tais 34 vilas e jardins que integram o chamado Grande Ipiranga.
Falávamos da nossa aldeia, querendo mudar o mundo.
Coisas de jovens inconsequentes e sonhadores, como dizia, com riso safo no rosto, o Marques.
Ele odiava que o chamasse de senhor:
Senhor está no céu – dizia.
…
Não preciso dizer, mas digo que vivíamos os dias de chumbo da ditadura militar. Havia sempre a ameaça de que, a depender dos humores do baronato verde-oliva de então e seus asseclas civis, a edição pudesse ser recolhida por esta ou aquela reportagem inconveniente.
Nunca aconteceu. Gracias à la vida…
Mas, houve perrengues.
E foram muitos.
…
O mais encrencado deles foi a denúncia que fizemos nas páginas do jornal – no caso a repórter foi a Regina Maria Curuci com o repórter-fotográfico Claudio Michelli – sobre o uso da máquina oficial na campanha do então candidato a deputado federal Paulo Maluf.
Virou processo contra Maluf.
Ele havia feito campanha dentro da então Administração Regional do Ipiranga, com a devida vênia do chefete de então (não lembro exatamente quem era) e do prefeito Salim Curiatti.
Como diretor de redação do jornal, compareci três ou quatro vezes ao Fórum do Ipiranga para prestar esclarecimentos sobre o que o jornal havia publicado nas reportagens e eu havia endossado no editorial.
…
Nada além do óbvio.
As fotos do Clamic, as que foram publicadas e outras mais que levamos no dia da audiência, comprovavam a farta distribuição de ‘santinhos’, as faixas alusivas à candidatura, o homem no palanque. O texto cirúrgico da Regina só descreveu a farra do boi, digamos assim, que eu tratei de comentar, com alguma contundência, na coluna Caro Leitor.
…
Como disse, nada além do óbvio.
As evidências eram tantas e tamanhas para a impugnação da candidatura de Maluf que estranhamente o julgamento do processo foi adiado até que caísse no esquecimento – e fosse arquivado.
Maluf foi eleito deputado federal com uma explosão de votos, o mais mais de todo o País.
…
É ou não é a cara do Brasil?
De ontem, de hoje e, temo, de sempre.
Resistir, como disse a amiga, é a regra.
Resistamos, pois. Com a arma que temos: a palavra.
…
O que você acha?