"Esperamos pela luz, mas contemplamos a escuridão" (Isaías)
01. Enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso reunia-se com o líder tibetano, Dalai Lama, Tenzin Gyatso, as rádios paulistanas anunciavam outra falseta do Câmara Federal que aprovou um aumento salarial, em torno de 2 mil reais para os parlamentares, retroativo ao mês de janeiro.
02. Até mudei de parágrafo porque verdadeiramente não dá para entender o que se passa na cabeça desses iluminados senhores. Parece que foram eles que chegaram do Tibet agora, estão zen demais ou nem aí para a realidade brasileira, esta dura e cruel realidade que deveriam defender, zelar, trabalhar para transformar e estender suas benesses a todos os brasileiros.
03. Se poderia existir um momento mais inapropriado, certamente seria este. O Congresso Nacional entrou numa belíssima dividida, capitaneado pelo senador Antônio Carlos Magalhães, quando aprovou a CPI do Judiciário. Voou para a polêmica da inconstitucionalidade ao propor investigar os escaninhos de um Poder independente, autônomo. Até aí tudo bem. A opinião pública aplaudiu a iniciativa em nome da causa social. Mas, nunca esqueceu de salientar que não seria demais uma auto-avaliação da conduta, dos próprios bastidores.
04. Toda a sujeira que está rolando em São Paulo, com a inundação de denúncias envolvendo vereadores, regionais, Prefeitura, dá clara evidência de que o Legislativo está em xeque como Instituição confiável e pilar de uma Nação que se pretende contemporânea e democrática. Mesmo assim, e apesar de todos os contrários, lá estão nossos federais votando uma "ajuda de custo" para reforçar o orçamento pessoal. É difícil acreditar que seja real, de tão insensata que a medida se revela…
05. A bem da verdade, a insensatez e o deslumbramento parecem ser marca registrada do fernandismo, nesta sua segunda edição. Como entender a doação de dinheiro público para dois pequenos bancos (o Marka e o FonteCindam) que ameaçavam quebrar mercê da própria inépcia. Ou seja, questão de ordem para FHC e seus próceres econômicos: primeiro, salvar os bancos falidos por incompetência ou esbanjamento, ao preço que for; depois, sim, fazer rastreamento minucioso do orçamento para investir em saúde, educação, trabalho, segurança. Digamos, essas "trivilalidades" da vida ficam relegadas aos planos, projetos, discursos e temas de seminários internacionais e cousa e lousa. Nunca chegam até nós, os principais interessados.
06. Uma rápida visita a qualquer um dos nossos hospitais públicos (inclusive os da região, Heliópolis e Ipiranga) é prova inconteste do quanto esse Governo fecha os olhos para uma realidade que aí está. Prefere não ver o quanto está perdendo (e nos fazendo perder) em nome de uma situação que se quer estável. Mas que, na verdade, baseia-se na mentira, repete os erros do passado (porque fundamenta-se na preservação de valores retrógados) e projeta um futuro de sofrimentos. Se há um objetivo, é melhor trabalhar desde já para alcançá-lo. Caso contrário, estaremos trabalhando contra nós. Não há porque adiar sonhos e certezas. Jogar nosso dinheiro no sistema financeiro quebrado é no mínimo burrice, andar para trás, protelar soluções. É urgente fazer a coisa certa, trabalhar em prol da felicidade como algo próximo, que se vivencia e se conquista a cada etapa vencida. Repito: somos nós que decidimos nosso destino e, queiramos ou não, a hora da decisão já está passando…
07. Enquanto isso, FHC continua indignado com as pessoas que se aposentam. Ele que se aposentou aos 38 anos…