Entre tantas e tamanhas, a minha geração pode se gabar de relevantes conquistas em prol do inefável caminhar da humanidade. Uma delas foi a suprema liberdade de usar a camisa para fora da calça sem que algum incauto fizesse (ou faça)o inevitável comentário, em tom de admoestação:
“Olha aí, rapaz, as fraudas estão aparecendo.”
A turma do meu pai, por exemplo, não entendia nosso desleixo. Tinha lá seus modelos – Humprey Bogart, Frank Sinatra – e alfaiates e não tolerava hábitos tão rústicos como trocar a casimira inglesa ou o abominável tergal pela calça jeans (que chamavam de ‘rancheira’) e o pior de todos os costumes – deixar o cabelo crescer em desalinho.
Heresia das heresias era trocar o imponente topete pela franjinha à la Beatles.
Pois, vejam…
Li não sei onde, dia desses, que Faustão se permitiu apresentar um de seus tradicionais Domingões, nesse estilo mais descolado – e que isso causou certo frisson nos corredores globais.
É natural, penso.
O moço está todo gabola depois da dieta e da cirurgia.
Daí, o luxo de estar entre os seus.
Acreditem!
O apresentador tem a mesma idade deste combalido escriba.
Não que eu tenha paixão e conhecimento do mundo das celebridades.
É que todos os anos quando as rádios e as revistas anunciam o aniversário do Faustão, minha mãe, dona Yolanda, faz questão de lembrar que somos contemporâneos.
E mais.
Que ele não tem sequer um fio de cabelo branco, enquanto eu…
Eu, de cabelos ralos e grisalhos, ando caindo pelas tabelas.
— Você precisa se cuidar, filho! Comece arrumando essa camisa dentro das calças.