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A Taça do Mundo é nossa… (2ª parte)

Sem graça, sim. Porque a grande diversão dos garotos da rua Muniz de Souza é o futebol. Jogamos bola, da manhã até à noite. Na calçadas, no campinho, no barrancão do Jardim da Aclimação. Com bolas de meia, de borracha, de capotão. Bobinho, controle, gol a gol, chutar-rebater e driblar, rachão. Não importa hora, local, tipo de jogo – queremos mesmo jogar futebol.

Entre um jogo e outro, uma brincadeira e outra, nosso assunto é… futebol. E aí a grande diversão é provocar o outro. Dizer que meu time era melhor do que o dele. Que o Mazzola é melhor que o Luizinho, que o Luizinho é melhor que o Canhoteiro e por aí temos assunto sem fim.

Agora se todos torcerem por um time só será um tédio. Chatíssimo.

Não haverá razão para eventuais bate-bocas e pancadarias que, às vezes, tal e qual o pai, a gente exagera.

III.

Por falar em pai. Ele bem que tentou me explicar.

— A seleção representa a Pátria.

Não ajudou muito.

Explico.

Ainda domingo passado o Santos do Cambuci jogou contra um time chamado Pátria. Foi uma partida difícil, mas o Santos ganhou e não vi nenhum desses jogadores em campo.

— Não, não. A seleção é formada pelos melhores jogadores de cada clube e representa o nosso país, o Brasil, num torneio que se disputa de quatro em quatro anos e se chama Copa do Mundo. Participam 16 países e quem ganha fica com o título de melhor do mundo, entendeu?

Balanço a cabeça para mostrar para o pai que não sou tão bocó assim. Digo que tem lá suas vantagens torcer por uma equipe com um ataque formado por Cláudio, Luizinho, Mazzola, Ênio Andrade e Canhoteiro.

O pai sorri.

— Melhor ainda. Pois a seleção reúne jogadores do Rio de Janeiro também. Didi, Joel, Vavá, Dida e um tal de Garrincha…

— Dá para fazer um bom time, né, pai?

— O melhor, filho, o melhor…

IV.

Bastou começar os jogos para ver que o pai tinha razão. A cada partida, era uma festa. Uma alegria. Todas as casas tinham um rádio sintonizado no jogo – e as pessoas pareciam todas irmanadas. Como se fossem da mesma família, na noite da véspera de Natal. Até as mulheres se entusiasmavam como futebol.

Na escola, a professora, dona Izabel, trouxe um livrão chamado Atlas, repleto de mapas. Mostrou para nós quais seriam os adversários do Brasil: Áustria, Inglaterra e Rússia. Pelo tamanho deles em comparação ao nosso, achei que ganharíamos fácil dos dois primeiros e a tal da Rússia me pareceu problema.

— O futebol não tem lógica.

Foi a primeira vez que ouvi essa frase.

(Amanhã continua…)