Há música ambiente no restaurante em que me encontro em Munique – dele, sai a voz do gringo a entoar o nosso manjado “Mas Que Nada”.
Fico pensando se houve alguma vez em que viajei para outros países que não tenha ouvido a canção de Benjor em uma das mil e uma leituras que recebeu mundo afora, seja em bares, restaurantes, lojas e mesmo na esforçada interpretação de um músico de rua em Milão.
Vivemos a tal globalização.
Um momento único de transição que a gente verdadeiramente não sabe bem para onde vai – e se vai?
Nas ruas da metrópole alemã, mesmo na primavera gelada (chegou a nevar por aqueles dias), os manifestantes estão nas ruas centrais nesta manhã em que aqui me encontro. É uma mobilização genericamente pela paz, mas agrega outras causas – a legitimação dos direitos das minorias, a abertura das fronteiras para os refugiados, de protesto à ação de Trump na Turquia, ao risco da bom nuclear – que mal consigo distinguir nos cartazes escritos em inglês e alemão.
Volto ao Brasil e mal desembarco tenho notícias da greve geral que se anuncia para a próxima sexta, dia 28.
De volta para casa, no carro que me leva, o motorista me informa que é contra as mudanças na Previdência Social e a malfadada Terceirização, maldades mais que ansiadas pelo governo ilegítimo.
Ele me diz que “ouviu dizer” que há outros motivos em jogo. Mas, não consegue saber exatamente quais e tais. Mesmo sem entender bem “a coisa toda”, defende que alguém precisa fazer algo.
“Do jeito que está não pode ficar. Certo? ”
Respondo que sim.
– Certo!
Não vou além disso, porém.
Fico em silêncio – e sinceramente entristecido com a notícia da morte do cantor Jerry Adriani, uma espécie de Elvis ítalo-brasileiro, que a Jovem Guarda nos legou num tempo em que todos éramos jovens e, apesar dos malefícios da ditadura, era possível sonhar e ter esperança.
Temo que também essa chama ameace se apagar.