Escolho ficar em São Paulo a viajar nesse feriadão.
Talvez não seja exatamente uma escolha – e, sim, uma necessidade.
Repararam como o mundo anda ‘virado’ – e a gente no meio desse ‘vira’ acaba ‘virando’ ou se ‘deixando virar’ também.
É inevitável.
As notícias, que lá nos idos tempos do reinado do jornal impresso, nos impactavam com a tragédia do ontem só na manhã do dia seguinte, hoje nos atropelam e massacram em tempo real; muitas vezes, via visor do celular.
II.
Nos antigamente, tínhamos lá certo tempo para ‘ruminar’ o fato, tentar entendê-lo e melhor assimilá-lo.
Ler pela manhã o jornal do dia era um ritual.
As discussões que se seguiam, via de regra, vinham eivadas de um mínimo de entendimento e – acreditem! – análise.
Hoje, as coisas são diferentes, abruptas.
III.
Ontem tivemos um dia triste, especialmente assim.
A morte de Thomaz, o filho do governador, na queda de um helicóptero, as explosões e o incêndio de um tanque de combustível nas imediações do porto de Santos, as quatro mortes por balas perdidas e os confrontos sem fim no morro do Alemão (Rio de Janeiro), o ataque contra cristãos (147 mortos) em uma faculdade no Quênia, sem falar de outras tragédias cotidianas… Tudo nos parece chegar ao mesmo tempo e agora, sem pedir licença, sem pedir passagem.
É devastador para qualquer cidadão minimamente comprometido com o bem comum e a construção de um mundo melhor.
Toda e qualquer análise que se tente fazer, toda e qualquer compreensão que se imagina ter sobre o fato, mostram-se (análise e compreensão) precipitadas e nulas.
Beiramos o descontrole ou já estamos nele?
IV.
Um amigo, o Poeta, dia desses, em meio a uma roda de camaradas, fez o alerta:
— Vivemos uma era de sombras.
Estávamos assistindo ao jogo do Corinthians e no entusiasmo da Fiel no Itaquerão, desprezamos as recomendações do amigo. Houve quem o taxasse de sãopaulino.
No entanto, cá nos vemos a desfiar tamanhas vicissitudes como práticas diárias a nos desesperançar.
Outro poeta, este dos melhores que houve e há, Carlos Drummond de Andrade, escreveu que “a vida, por vezes, precisa de uma pausa”.
V.
Longe de este modesto escriba cometer qualquer heresia, mas talvez fosse o caso de atualizarmos a assertiva:
“A humanidade precisa, urgentemente, de uma trégua”.
Eu completaria:
Para se reinventar, resgatar virtudes como solidariedade, tolerância, bom senso, equilíbrio, justiça social e, assim, ver a paz renascer no coração de cada um de nós.
Que este dia santificado (pela Paixão e Morte de Cristo) conforte a família das vítimas, nos conforte também e inspire a todos a busca de um mundo mais fraterno.