Sono bom de sexta para sábado.
O Degas aqui pode se esparramar à vontade, pois não tem hora para acordar.
Nessa do descompromisso, o Degas sonha que ainda está em Andorra La Vella, a romântica capital do principado incrustado nos Pirineus.
Que pode pode…
O enredo do sonho até que é legal.
Ele está zen.
Admira os prédios de cor escura e poucos andares e o recorte das montanhas a lhes sombrear o dia.
Faz mais e melhor.
Deixa que o sol esquivo desta primavera esquente o corpo que descansa no banco em um dos parques da cidade. Diverte-se ao ver os garotos sem a menor intimidade correr atrás de uma bola em uma quadra improvisada. Dois deles envergam a tradicional camisa do Barcelona, com listas azul e vermelha. Têm o número 10 e o nome do argentino Messi estampado nas costas, grafados em amarelo.
O contraste lhe chama a atenção.
E, mesmo no sonho, o Degas se pergunta, sem qualquer interesse na resposta:
Seria a proximidade da Espanha, a bola redonda que o Barca vem jogando ou a mítica do novo deus da bola?
O futebol une, globaliza, encanta.
Aliás, muito parecido com o que se vê em Andorra.
Parece longe de tudo, inatingível.
Basta andar, pelas ruas íngremes e rigorosamente limpas, sem um cisco no chão, para que o Degas se sinta no centro do mundo. Gente de todas as partes do mundo – especialmente da Europa – aqui acorre primeiro pelo encanto que lhe é peculiar.
Lugar é danado de bonito.
Depois – sejamos práticos – porque aqui se vende de tudo, livre de qualquer taxa.
Relógios, jóias, celulares moderníssimos, tablets, notebooks, roupas de todas as grifes, perfumes, armamentos de todos os calibres e até bombas de gás de pimenta e lacrimogêneo…
Uma festa.
Até o Degas quase caiu nessa. Só não comprou um chapéu do Indiana Jones por 60 euros porque descobriu, em uma etiqueta enfurnada no forro, que o tal é fabricado no Brasil (para ser mais preciso em Campinas, São Paulo) e porque, tamanha decepção, o fez acordar injuriado.