Não lembro se já contei ou não o causo nesse espaço.
Em todo caso, lá vai…
Conto de novo.
Todos os dias, o repórter-fotográfico Anísio Assunção vinha com suas lorotas difíceis de acreditar. Boa praça, falastrão, ora contava as proezas de infância em Minas Gerais, ora enaltecia o incrível talento que o próprio julgava ter para o futebol. Ora lamentava a milhar que acabara de dar no jogo do bicho. Havia sonhado com ela, só não jogou por preguiça.
Um fim de tarde qualquer, fechamento da edição correndo solto, deixei escapar minha admiração às avessas para o caso e tasquei em alto e bom som:
— Mas, por quê? Por que, meu Deus?
A expressão virou bordão na saudosa redação de piso assoalhado e janelas para a trepidante rua Bom Pastor. Toda vez que o Anísio ou quem quer que fosse insinuava uma história mais abusada, era inevitável o coro:
— Mas, por quê? Por que, meu Deus?
Por força do ofício, participo com frequência de fóruns e conferências. Não é raro lembrar a expressão sempre que olho ao redor e vejo o ‘entusiasmo’ da platéia.
— Mas, por quê? Por que, meu Deus?
Ainda hoje à saída de um desses colóquios, ouvi de um gaiato a fala que o técnico corintiano, Tite, popularizou tempos atrás – e voltou á tona por força do clássico Palmeiras e Corinthians:
— Fala muito! Fala muito!
Não é para me gabar, não. Mas achei minha frase mais criativa, contundente.
Só não fez o sucesso que merecia porque o meu alvo foi o Anísio – e a do Tite foi, como todos sabem, o Felipão.