Certa vez, entrevistei o sambista Agepê. Calça de linho, camisa de seda e estampada,cordões de ouro. O autêntico bom malandro carioca.
Quem se lembra dele?
“Ei! Ei! Ei! Menina de cabelos longos
Quero te levar pra longe
E no primeiro bonde a gente pode partir”.
Lembraram?
Outra dele:
“Moro onde não mora ninguém
Onde não passa ninguém
Onde não vive ninguém
É lá onde moro
E eu me sinto bem
Moro onde moro.”
Agepê faleceu em 95, aos 53 anos.
Era um mulato alto, bigode espesso, jeito divertido de dançar e contar histórias mais engraçadas ainda. Histórias que beiravam ao inverossímil.
Toda vez que passo na avenida do Estado e vejo abandonado o velho prédio da gravadora Continental, dou risada sozinho das histórias que ali ouvi do sambista. Incrível o sucesso que ele fez nos anos 70 e 80.
Aliás, não me perguntem o motivo. Não vou lembrar. Mas, naquela entrevista, para espanto e riso dos repórteres, o homem esqueceu o novo disco- aquele mesmo, bolachão de vinil – e falou de tudo (em off, lógico), principalmente sobre os romances simultâneos que administrava com fôlego de gato e habilidade
de um Casanova redivivo…
Cada senhora Agepê – sim, porque era assim que ele a elas se referia – vivia num canto da cidade do Rio, estrategicamente distantes, à espera da visita do moçoilo.
Que, aliás, sabia recompensá-las com atenção, afeto e versos de uma nova canção.
“Deixa eu te amar
Faz de conta que sou o primeiro
Na beleza desse teu olhar
Eu quero estar o tempo inteiro (…)
Quero te pegar no colo.
Te deitar no solo e te fazer mulher”
Segundo o próprio, foram, no mínimo, três ou quatro as musas desse famoso refrão.
Todas devidamente avisadas da homenagem EXCLUSIVA que acabavam de receber…
*Ouvi a regravação de uma das canções de Agepê no rádio. Lembrei-me saudoso da figura e post que escrevi 21 de março 2007.