Termino de ler – ou melhor, reler pela quarta ou quinta vez – Ai de Ti, Copacabana, coletânea de crônicas do grande Rubem Braga.
Deliciou-me como da primeira vez.
Aliás, reler o Velho Braga é sempre um desbravar da própria alma, do próprio sentimento, das próprias venturas que vemos refletidos no alinhavar das histórias que ele nos conta. Que são dele, vividas por ele ou por pessoas que circulavam ao seu redor; mas, que parecem tão nossas, tão delicadamente nossas.
Um revolver de encantos para quem o lê – pena que tão pouco o façam nos dias atuais.
Um mestre para quem, como eu, vive a enfileirar letrinhas.
“ (…) Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.
Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir vontade de fazer alguma coisa boa.
(…)
Alguma coisa que eu disse distraído – talvez palavras de algum poeta antigo – foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito distante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remotas esperanças.”
Braga em ‘A Palavra’, crônica escrita em novembro de 1959.
Ou seja, lá se vão 50 anos…
* Retrato de Rubem Braga, feito por Dorival Caymmi. Óleo sobre tela. Maio de 1945.