Sou apaixonado por música.
(E não sei bem como explicar essa paixão.)
Não fui músico por absoluta e total falta de talento.
Meu saudoso pai, certa ocasião, quando me viu, menino ainda, arranhar e maltratar o violão, não teve dúvidas em fazer o alerta:
– Deixa pra quem sabe, quem tem o dom.
Entendi o recado, mas não abri mão que, de alguma forma, ritmos e compassos, ritmos e sons, vozes e canções deixasse de embalar a minha vida.
Quem me lê aqui todos os dias – e Deus há de recompensá-los por tamanho sacrifício – sabe da minha preferência pela música e pelos músicos que, como nenhuma outra forma de arte, tão bem retratam usos e costumes, emoções (são tantas) e sentimentos das gentes brasileiras. Tão iguais nas querências e tão distintas no jeito de ser e tocar a vida.
II.
Faço essa breve introdução para logo falar da exceção. Há gênios musicais que me tocam profundamente. Não vou nominá-los aqui para não perder o foco do texto de hoje. Quero lhes falar – e reverenciar – apenas um deles: Al Jarreau, um dos mais sofisticados intérpretes que tive oportunidade de ouvir e conhecer.
Eu o vi pela primeira vez nos idos dos anos 70, na TV. O showbiz nativo vivia um ‘boom’ até então nunca visto. Embalados pelo auspicioso momento de nossa música popular, chegamos a ser o terceiro mercado fonográfico do Planeta.
O cantor aproveitou a viagem para fazer uma temporada por aqui e, de alguma forma, conquistou a mim e a um punhado de gente com sua versatilidade interpretativa, repleta de suingue e meneios vocais.
Era um extraordinário intérprete de jazz e R&B, embora, sempre que perguntado, não tinha dúvida em responder a origem e o que doutrinou tanto talento: Tom Jobim, Baden Power, Sérgio Mendes, entre outros autores brasileiros, foram influências decisivas para que Al Jarreau trilhasse o bom caminho do pop e da word music.
– Foram influências definitivas, disse, certa vez, em uma entrevista.
III.
Ele voltou diversas vezes ao Brasil. Em fins dos anos 80, participou de um festival de jazz em São Paulo que eu tive a oportunidade de cobrir para o “Shopping News” (quem se lembra de vibrante semanal?).
Foi a última vez que o vi em cena.
Um espetáculo inesquecível.
Al Jarreau morreu neste domingo, aos 76 anos.
E o mundão, que já não lá grande coisa, ficou ainda mais descompassado…