Almeidinha é daqueles tipos inesquecíveis, comuns às velhas redações.
— Um puro, dizia o Nasci, saudoso amigo que por si só era outra figuraça.
Vivia do jornal – e, sobretudo e principalmente, para o jornal.
Trabalhava 16, 18 hora por jornada – e só saía da lide quando, no melhor estilo dos jornalistas de então, pegava a edição do dia diretamente da “boca” da impressora.
Ajeitava o nó frouxo da gravata fininha e sóbria, dando-lhe incerta simetria com o colarinho aberto da camisa impecavelmente branca, e fazia o ritual diário: conferia a manchete, os títulos da primeira página, dobrava o jornal em quatro, colocava sob um dos braços – e dava por encerrado o expediente.
Assim – e sem outros quereres –, diziam, se realizava plenamente.
Não acalentava sonhos, nem paixões.
Tudo o que queria era ver o jornal na rua. Se possível, em exposição nas bancas da cidade, com uma notícia mais impactante que a do concorrente.
Certa vez, uma repórter, que tinha lá suas ideinhas para com o fidalgo, resolveu provocá-lo que, de resto, lhe era indiferente, visto que o “fechamento” da edição do dia tomava todo o tempo e concentração:
— Almeidinha, não sei como você aguenta. Sua vida, fora do jornal, é túmulo!
E o solerte editor, sem dar a devida atenção aos cuidados da moça para com ele, respondeu já pensando na pauta do dia seguinte:
— Túmulo? Não, não ta com nada. Reencarnação, sim. Reencarnação dá uma boa manchete. Vende bem! A que horas você me entrega a matéria?
A moça desistiu. Desconfio que até mudou de emprego…
Lembrei-me dessa historieta ontem à noite quando fui conferir uma reportagem que o Fantástico anunciou sobre o tema – que por sinal está na novela das seis ( Escrito nas Estrelas) e no novo romance de Paulo Coelho (Aleph).
A matéria não disse nada com nada.
Imaginei que Almeidinha esteja fazendo uns bicos na Globo.Quem sabe?
** Pré-lançamento do livro
MEUS CAROS AMIGOS –
Crônicas sobre jornalistas,
boêmios e paixões (foto)
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