Quis lhe encantar e contar a história do mundo.
Por um instante teve essa tola pretensão.
Ela sorriu indiferente à bobagem que ouvira e a uma das mangas da blusa que teimava em despencar ombro abaixo.
Ele se embaralhou com as palavras. Procurou explicar-se a partir do exemplo dos grandes amantes que, a seu modo, reescreveram os passos da Humanidade, recheados de miséria e conflitos, injustiças e perdas. Quantos desses enredos atravessaram os séculos na música, no teatro, nas artes plásticas, no cinema, na literatura.
Precisaria ser mais objetivo. Afinal, ela estava com pressa.
(Atrasara-se para um compromisso profissional.)
Os minutos voavam.
Pensou, então, em citar o poeta e a arte do encontro (embora haja tantos desencontros pela vida) e do eterno (enquanto dure). Falaria das estrelas de brilho infindo (que nos encantam mesmo à distância) e do sol (que renasce a cada manhã mesmo em dias de chuva).
Pensou dizer tantas coisas.
Que talvez eles também fossem parte de alguma trama rara do destino. Que não poderiam se perder. Que os caminhos, as trilhas, os atalhos que ambos percorreram, os trouxeram até ali, naquele lugar, naquele preciso e luminoso instante.
Amores são sempre possíveis.
Mesmo em tempos de sentimentos liquefeitos, dos relacionamentos virtuais, dos sonhos esmaecidos pela pressa de chegar a lugar algum.
Amores são sempre possíveis.
Mesmo nesse tempo louco e fugaz (e apesar de…) o mundo continua a girar “imóvel como um pião”.
Quis lhe dizer.
Mas, teve receio de parecer óbvio demais, derramado demais, romântico demais.
Então, fez o que lhe pareceu mais certo.
Pediu um minuto de atenção.
E a surpreendeu com um beijo suave no ombro desnudo e desejou, desejou muito, que ela o entendesse… Todo apaixonado é um ser ridículo, mas não há outro jeito de se dar um mágico sentido à vida real.