Uma ousadia.
Mesmo como o céu carrancudo, saio para caminhar no fim da tarde de ontem.
Não imaginem este humilde escrevinhador em marcha atlética ou algo que o valha.
Longe disso.
Vou a passos miúdos, com jeito de quem não quer chegar.
Olhar perdido aqui e ali, que as calçadas não estão lá essas belezuras, olhar pregado no movimento de carros e gentes. Que podem ser o assunto da crônica do dia seguinte.
O pensamento, bem… Livre pensar é só pensar. A remoer anseios e aflições – se é que ainda os tenho.
…
Faço isso quase todos os dias.
O cenário me é conhecido, portanto.
Mas, as pessoas hoje me parecem diferentes. Bonecos de pano, envoltos em casacos e gorros e cachecóis, caminham cada qual no seu ritmo. Andam em silêncio, pois não têm alternativa que não seja enfrentar o frio e a chuva fina, intermitente. Também aparentam estar voltadas para si. Anseios, aflições, compromissos mil.
Ao que vejo, são trabalhadores.
…
Para todos, acredito, a tarde não foi lá das mais inspiradoras.
Não eram quatro horas e o céu pretejou de tal maneira que parecia noite. Cinzento, inóspito, ameaçador.
Não veio o chuvão que se prenunciou. Dois ou três trovões, depois só aquela garoa um tantinho mais grossa, chata, contínua, que não encharca, mas molha e resfria.
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Nesta terça, dia 20, é feriado em São Bernardo do Campo. Aniversário da cidade.
A priori, ninguém está muito aí para a data.
O desemprego em alta.
Idem, o dólar.
A autoestima em baixa.
Ainda mais esse climão nebuloso, e triste.
Tem pique para efemérides não.
…
Entro na padaria, a de sempre, para o pingado de sempre – e ouço alguém comentar que, mesmo assim, a Municipalidade preparou uma ampla programação de eventos para festejar a data.
O cantor/compositor Criolo será a principal atração.
Entre outras solenidades, haverá ainda um desfile cívico militar, com a participação de dezenas de escolas, na rua Marechal Deodoro.
Criolo é aquele dos versos contundentes de “Não Existe Amor em Sampa”.
Seu show atual é um tributo ao centenário do grande Nélson Gonçalves.
Parece interessante.
Fica a sugestão aos sambernardenses mais descolados.
Será dia 22, no palco do Cenaforte.
…
Já o tal desfile me incomoda.
Virou moda agora, mas me informam que é tradicional por aqui.
Nunca ouvi falar.
Fico pensando na garotada que imaginou se refestelar nas brincadeiras em pleno feriadão – e agora vai ter que se picar cedo da cama para estar a postos logo pela manhã no Centro da cidade. Num dia frio e chuvoso.
Que falta de sensibilidade!
Enfim…
Vida que segue.
Aqui, a programação de aniversário
Foto: Divulgação/PMSBC
* Institutos de meteorologia informam a causa de o “dia virar noite” em parte da região Sudeste do país. Explicam que a causa foi a chegada de uma frente fria e “também de partículas oriundas da fumaça produzida em incêndios florestais na Amazônia”.
Olhem o tamanho do descalabro ambiental que vivemos!
O que você acha?