Amigo Escova,
Folgo em receber notícias – e saber que você está com saúde e em paz!
Quem diria que o safo Dom Juan das Quebradas do Sacomã fosse, mais dias, menos dias, sossegar o facho e se transformar nesse dedicado e carinhoso vovozinho de duas lindas garotinhas (só as conheço por fotos) a abençoar seus dias de pacato cidadão aí, nesta gélida aldeia francesa, onde vive – e não mais se esconde, como naqueles trôpegos idos em que trabalhávamos na velha redação de piso assoalhado etecétera, etecétera
Belos dias, aqueles – me diz o amigo e os confirmo.
Só que – ele faz questão de ressaltar – ainda não se equivalem aos atuais, posto em sossego e no harmonioso resguardo familiar.
Posso imaginar, Escova, posso imaginar.
Tem tempo que é de fogo, outros são de água.
II.
Éramos repórteres – e empenhados com as vãs notícias do dia.
“Atrás do fato onde o fato estiver…” – lembra desta fala?
E desta outra?
“Lugar de repórter é na rua, atrás da notícia.”
Era o Marcão (Tonico Marques), o chefão, nosso mestre e guru, sempre a nos incentivar a busca da almejada “verdade factual”.
Desconfio que o Jornalismo que hoje se pratica não valoriza mais – e como deveria – a boa reportagem.
Sobram opinião e o achismo dos grandes (ui!) colunistas.
Mas deixemos o Jornalismo aos próprios descaminhos…
III.
Não preciso lhe dizer, mas digo que, ao reconhecer sua caligrafia no envelope da carta que me enviou, fui tocado pela emoção . Aliás, receber uma carta hoje em dia é mesmo um acontecimento. Uma carta de um grande companheiro, então…
De arrebentar o coração deste combalido escrevinhador.
IV.
Você diz que tem notícias minhas, pelo Blog.
Por isso, pede para que eu não pare de escrever.
“É a única coisa que sinto falta”, justifica.
“Parece que perdi o jeito, e a coragem”.
Deixa de letargia, homem.
Escrever e coçar é só começar.
V.
Notícias do Brasil, que você deixou, num exílio voluntário, assim que se perpetrou o Golpe de abril de 2016, diz que as colhe no noticiário nacional e internacional.
A pergunta que me fez – “Como chegamos a tal ponto?”…
… Sinceramente, não sei lhe responder.
VI.
Digo apenas que tu és um visionário, amigo!
Saltou fora assim que o monstro do retrocesso pôs a cabeçorra pra fora.
E haja Lago Ness para abrigar a voracidade do bicho!
Ouso lhe dizer que passaríamos manhãs de sábados e mais sábados nos botecos do Sacomã a inventariar o tamanho da armação dos Senhores do Poder para se aboletar em Brasília e (argh!) até no tal Palácio dos Bandeirantes – e não teríamos qualquer clarividência sobre o tema.
VII.
“Somos um povo inculto que, dia a dia, vem perdendo sua identidade seja no âmbito cultural, seja como Nação – é o que eles querem…”
Poderíamos começar nossa conversa pela análise do saudoso Zé Jofre, outro veterano da redação, gráfico de origem. Cearense arretado, autodidata, bom de argumentos (“patrão bom nasce morto!”) e consciente do papel do cidadão na sociedade.
VIII.
Saudades daquela turma, daqueles idos onde era possível (e viável) o sonho de uma sociedade justa e contemporânea. Uma sociedade de iguais, de homens e mulheres livres, e solidários.
Os tempos são outros, meu caro.
Sem mimimi de perdedor, ok?
Mesmo assim, há que se pelear em nome da esperança.
Concorda?
Então seguimos em frente, amigo Escova.
Continue lendo o Blog e me querendo bem, pois não custa nada.
Um grande abraço!
(Ah!, obrigado pela foto que ilustra o post de hoje)
eu...
5, novembro, 2018Quase um soneto…
Atravesse o Atlântico e venha matar a saudade dos amigos que sentem saudade do’ce…
Te esperamos…
Ass: eu e o amigo Escova…