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Aos jornalistas do futuro

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Falei hoje aos estudantes do primeiro semestre de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo.

Era a apresentação do Projeto Integrado da turma que compareceu, quase toda, mesmo com as dificuldades de locomoção e transportes.

Assisti à apresentação de três grupos. Saíram-se bem no comparativo e análise das narrativas da mesma notícia – dois escolheram a repercussão da prisão de Lula e o outro fez sobre a morte de Winnie Mandela – em três plataformas diferentes (rádio, TV e impresso).

A meninada, entre 17 e 18 anos (chegam cedo à universidade), leva jeito para o dito-cujo mundo jornalístico.

Tomara nós, professores, estejamos à altura das expectativas que nos trazem. Tomara…

(…)

O que disse a eles…

Dei boas-vindas à vida acadêmica e ao desafio das bancas que, aliás, ocorrerão em todos os semestres. Até o juízo final, a banca do Trabalho de Conclusão de Curso.

“Vão se acostumando” – salientei.

Disse também que, como puderam ver, todos os veículos analisados em seus projetos editoriais se dizem apartidários, plurais, independentes e imparciais.

Constataram, ainda bem, que não é exatamente assim.

Em detrimento daquilo que, aprenderão no curso, se chama “verdade factual”, todos têm lá seus interesses e defendem sua ideologia e, por que não, os próprios candidatos.

Uns escancaram mais; outros, digamos, são mais contidos.

Pedi a eles que refletissem sobre o papel da Imprensa e de alguns veículos tradicionais na desintegração da democracia no País. Triste episódio que, nesses dias difusos, assistimos impotentes, quase em pânico.

(…)

Como de hábito, lembrei uma canção. A do Chico Buarque. “A Voz do Dono e o Dono da Voz”.

Chico a escreveu quando se sentia oprimido pelas injunções da gravadora Polygran em sua obra e tentava se desvencilhar do contrato que o mantinha por lá com a obrigação de gravar um disco por ano etc etc etc.

Fina ironia de Chico, que está no disco “Almanaque”, de 1981, o último que fez por este selo. Depois se transferiu para a Ariola.

(…)

Disse aos estudantes que nós, jornalistas, vivemos um tantão este mesmo dilema. O que vale mais a voz (os valores, os interesses, o posicionamento ideológico) do patrão? Ou a voz do jornalista que apura a notícia, faz as conexões, busca as denúncias e a bendita verdade factual?

Pedi que refletissem sobre a questão?

O jornalista é necessariamente um agente da transformação social.

Nosso compromisso é com o leitor.

E sobretudo com a construção de um Brasil efetivamente de todos os brasileiros. Sem desigualdades, socialmente justo, e contemporâneo.

*(foto: jô rabelo)

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