Uma lembrança.
Idos de 2005.
Ao saber do meu projeto de ter um Blog, um queridíssimo amigo, o Júlio, de notável carreira na imprensa, tascou logo a provocação bem ao seu feitio:
“Divirta-se, cara. Blog é o playground do jornalismo.”
Entendi a ironia da frase.
Fiz, porém, a ressalva do aspecto libertador que a plataforma traz em si. Longe dos ditos rigores editoriais (com os quais o jornalista nem sempre concorda, mas se submete) e a possibilidade de exercício do almejado livre-arbítrio.
Certo ou errado, lembrei aquela canção do Moska:
“Eu falso da minha vida o que eu quiser.”
Bora brincar de escrever – e ser feliz.
…
Nesses longos 15 para 16 anos, sigo cometendo minhas literatices à vontade, com honrosa companhia dos meus leais cinco ou seis leitores.
Que que eu quero mais?
Sou arteiro confesso das palavras.
Talvez me falte talento, mas raramente vontade.
No entanto, reconheço que a frase do amigo me vem à mente sempre que tropeço na dúvida atroz:
Devo ou não publicar isto, aquilo ou aquil’outro.
Lhes dou um por exemplo.
…
Na semana passada e nesta, troquei meu alinhavar de letrinhas e assumidamente desci para o ‘play’.
Ou melhor, invadi o salão de festa ao perpetrar a deliciosa brincadeira de postar a íntegra dos 10 discos de MPB que fizeram minha cabeça e esquentaram meu coração no santo ano de 1972.
E lá se vão 50 anos.
Sonhos e memórias de um jovem uspiniano de 21 anos.
“Uma viagem ao túnel do tempo” – comentou o leitor Camilo.
“O resgate de vidas passadas” – no dizer metafísico do amigo Escova, diretamente da França.
É dele também a conclusão:
“Uma terapia restauradora dos nossos melhores propósitos na juventude.”
…
Não imaginei tamanha repercussão.
Sinceramente, a ideia surgiu num relance.
Na boa, pensei mais em mim do que nos leitores quando toquei o projetinho.
…
Explico.
Lá pelos anos 90 me desfiz da minha coleção de discos de vinil – por volta de 4 mil unidades – porque não dava conta de conservá-la nos trinques. Os elepês começavam a empenar, as capas estavam em péssimo estado, o mofo e o pó se acumulavam e o meu mastodôntico aparelho de som apresentava problemas dia sim e outro também.
Enfim, surtei…
E, num impulso, fiz o repasse – a preços módicos – para um dedicado colecionador.
Não tenho remorso.
Mas, vez ou outra, bate aquela saudadezinha marota.
…
Talvez seja o principal motivo.
Mas deve haver outros.
Seguramente os há.
…
Ouvir as onze, dose faixas de cada álbum;
identificar-se com a mensagem do autor;
reviver as emoções de então;
os sonhos;
os delírios juvenis;
a crença no futuro;
e, sobretudo, no país que imaginávamos forjar com versos, acordes e esperança.
…
Por outra, tem a coisa da interatividade que o Blog permite.
Como seria compartilhar todos esses sentimentos com meus caros e diletos novos e velhos amigos/leitores?
As respostas foram saborosas.
Destaco o relato que ouvi da amiga e leitora Vera Thomaz:
“Amigo, me emocionei (com o disco do Roberto). Revivi o dia em que Toninho nos mostrou em primeira mão, no meu piano, a linda canção “Como Vai Você” que fez em parceria com o irmão Mário Marcos. Ficamos encantados. Alguém lhe perguntou quando iria gravá-la. E ele todo orgulhoso respondeu:
– Essa música vai pro nosso Rei. Roberto Carlos.”
…
Um adendo:
Toninho, para quem não é da turma da quarta dose era o saudoso cantor e compositor Antônio Marcos (1945/1992).
Que bela lembrança…
…
…
“
O que você acha?