Queria voltar a escrever a você como
escrevia nos aludidos velhos e bons tempos.
Uma novidade a cada segundo.
Uma dúvida a cada minuto.
Projetos mil todas as horas.
Difícil teclar hoje sobre o que você me pede.
Nem eu, nem o tempo somos mais os mesmos.
Mudei. Mudamos…
Me pede para falar da sorte de um amor tranqüilo.
Diz que lê e relê as mal traçadas e encontra
o que procura “nas entrelinhas” do que escrevo.
Escrever é um ato solitário.
Mas, quando escrevemos não nos imaginamos a sós.
Somos, no mínimo, dois.
Quem escreve e quem lê…
Eis que, quando há a identificação
que você diz acontecer, somos felizes.
Eu a escrever sobre meus ais.
Você que, de algum modo, cura os seus
a partir das tais entrelinhas…
Você hoje me propõe um tema.
Quer que eu discorra sobre a expectativa de viver
um amanhã pleno a partir de um amor de ontem
que se perdeu no tempo. Mas, teimosamente insiste
em se chamar esperança. Em se fazer presente
e vivo a cada nova manhã.
E me diz:
— Será que é porque há uma chance de tudo se
concretizar mesmo que num tempo fora de tempo?
E prossegue:
— Um dia quero acreditar no amor como você acredita.
E conclui:
— Desconfio que ando precisando de terapia.
Bem, descarto esta última fala.
Não sou, como você imagina, um expert no assunto.
Quase sempre descrevo aqui o que diz minha alma
de repórter ‘vira-lata’ em andanças vida afora.
Como anuncio na abertura da seção Parangolés:
São breves relatos que cismo de contar
(vividos, observados, ouvidos, imaginados,
pressentidos, requentados, pensados e criados)
a partir de um olhar, de uma emoção…
Ainda ontem assisti, em um desses canais da TV
a cabo, o filme “A Casa do Lago”. Trata exatamente
deste assunto: duas pessoas que se perderam
no tempo e, mesmo assim, se esperam
com a certeza de que haverá um amanhã
A produção baseia-se, ainda que as cenas
se passam em tempos atuais,no romance
“Persuasão” de Jane Austen, que é inclusive
citado na fala dos dois personagens enamorados.
O compositor Chico Buarque é soberano nos versos
que escreveu para Todo o Sentimento, a canção.
“Talvez no tempo da delicadeza.
Onde não diremos nada.
Nada aconteceu.
Apenas seguirei como encantado
ao lado seu… “
O cineasta, a autora e o poeta sabem mais do que eu.
Vale consulta-los de vez em sempre.
Quanto a mim, tem razão: acredito no amor.
Não que me sorria a cada esquina.
Sei dos seus meneios. São como o ir e vir
das ondas de um mar sem praia.
Se fosse possível, evitaria essas arrebentações.
Sofreria menos. Mas, eu e você, amiga,
sabemos que não sabemos viver de outro jeito…
Ou estou errado?