O homenzarrão, de cabelos em tom acaju, não se conteve.
Entregou os passaportes da família para os inspetores do aeroporto Reina Beatrix para carimbar o visto de saída e exclamou, todo simpático:
— Estamos deixando o paraíso.
Logo atrás, a jovem esposa balançou a cabeça em sinal de aprovação.
As duas crianças, entre oito e dez anos, nada disseram. Estavam empenhadas em livrar-se das mãos da mãe para continuar a correria e a sensação de liberdade que experimentaram desde que, sete dias atrás, desembarcaram em Aruba.
Não sei se essa pequena ilha do Caribe é mesmo um paraíso (até porque nunca estive no tal, e tão cedo pretendo não conhecê-lo).
Sei que, na semana que lá estive, não encontrei motivo para discordar do homem à minha frente. Foram dias de puro estio a vagar pelas praias de areia brancas e tranquilas águas de tom azul.
Embarcaríamos no mesmo voo de volta ao Brasil, e pareceu-me inevitável saborear certa tristeza ao imaginar-se longe dali, de volta à lida.
É bem provável que o dolce far niente de quem está de férias influencie favoravelmente todo o resto. Mas, há que se reconhecer: o tempo em Oranjestad, a capital e redondezas, tem ritmo próprio para passar. É cadenciado, venturoso; sugere a paz.
Por ali, é tudo organizadinho, com horários próprios e um jeitão de que a vida tem jeito, sim.
Para tudo, há uma solução.
Querem um exemplo?
A ilha, dizem os moradores, está livre dos tufões, ciclones e qualquer outra intempérie mais drástica. Pelo que pude entender, há uma barreira natural que faz com que os tais façam rota longe dali.
Em se tratando de Caribe, é um privilégio, convenhamos.
Querem mais?
Raramente chove. Dois dias por ano, se tanto. Sempre entre setembro e novembro.
A temperatura média fica em torno de trinta, trinta e poucos graus.
*Amanhã continuamos a falar deste quase paraíso. Ah!, não esqueci do Pimpão de cabelos acaju. Ele e sua turma voltam no final da história.