Ando com uma saudade danada do tempo em que ficava à procura de um bom assunto para o nosso cotidiano blogar.
Podia ser uma conversa despretensiosa entre amigos – quase sempre são eles que me pautam -, uma lembrança que pululava no sótão da memória, um livro que acabara de ler, a música que me emocionou, os recortes da viagem ainda frescos na memória.
O texto vinha descolado das vicissitudes do noticiário e, acreditem, houve quem, entre meus cinco ou seis leitores fiéis (há quem diga que já chegam a sete, ulalá), me elogiasse pela, vá lá, criatividade.
Enfim…
II.
Lembro, certa vez, o rapaz que passou assoviando uma velha canção – “Disparada”, se bem me lembro – e, pronto, lá estava eu, minutos depois, a batucar no teclado do computador a crônica do dia.
“Prepare o seu coração
Pras coisas que eu vou contar…”
III.
Nesses tempos conturbados de “o Brazil que está matando o Brasil”, sobra pouco espaço para divagações. Os fatos se sobrepõem e ai do escriba que não se dispuser a acompanhá-los.
Ontem mesmo eu encaminhava para os finalmentes a crônica sobre Marina Silva, uma encomenda do amigo Escova, quando o próprio me envia um zap a me cobrar outro texto, agora sobre o burburinho que acontecia em Brasília.
O presidente interino da Câmara, Valdir Maranhão, por conta e risco, decidiu anular a sessão da Casa que aprovou a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma encaminhado ao Senado.
A história, todos hoje conhecem.
Mas, ontem foi um alvoroço.
IV.
Escova logo me convocou a explicar tudo, tintim por tintim.
"Quem sou eu, primo?"
Fui logo rebatendo que nada falaria sobre o assunto.
Assim que postei o texto sobre as marinices da vez, lá vem outro zap do Escova:
“Por que não escreveu sobre a decisão do Maranhão?”
Porque não se sustenta até amanhã, respondi.
“Tem razão”, teclou o Escova. “Os homens estão organizados, como nos tempos da ditadura. Não há como derrotá-los. Por enquanto.”
V.
E o Renan é confiável?, zapeei.
Aí, foi a vez do amigo mostrar sua intimidade com o whatsaap. Me enviou aquele emoji de positivo e demos a conversa por encerrada.
(Mais tarde, fim de noite, eu estava assistindo ao documentário ‘Raul Seixas – O princípio, o fim e o meio’ quando recebo outro zap do Escova. Recomendava a leitura da reportagem do britânico The Guardian, ‘A razão real que os inimigos de Dilma Rousseff querem seu impeachment’, de autoria de David Miranda. E pediu que eu a indicasse no blog. Como não atender o amigo?)