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As manchetes que Gazeta do Ipiranga não deu *

01.

Frank Sinatra leva milhares de fãs ao delírio
em show no Parque da Independência.

Esta foi uma das manchetes que Gazeta do Ipiranga não deu. O primeiro ano de vida de GI, 1958, coincide com uma das fases áureas do cantor ítalo-americano que fazia sucesso nos palcos americanos e no cinema de todo o mundo. Mas a Gazetinha estava lá, no Clube Atlético Ypiranga, quando o rei Roberto Carlos fez um show mais do que especial em pleno anos 70. Também se fez presente, há cerca de 5 anos, na visita de Roberto ao restaurante do amigo Ed Carlos, nas imediações da avenida Lins de Vasconcelos. GI também registrou um momento triste da vida do Rei: o funeral de Maria Rita, realizado no cemitério da Vila Mariana.

02.

Gol do zagueiro Oscar dá empate ao Brasil
e desclassifica a Itália no último minuto.

Esta foi outra manchete que Gazeta do Ipiranga lamentou em não dar durante a Copa da Espanha em 82. O goleirão Dino Zoff fez uma defesa extraordinária e a Itália sagrou-se, dois jogos depois, tricampeã mundial de futebol. Foi um 5 de julho de uma tristeza inesquecível. Mas Gazeta do Ipiranga estava outra vez de plantão no Clube Atlético Ypiranga quando o zagueirão Oscar participou de um amistoso entre outras duas seleções: a dos técnicos e a dos cronistas esportivos. O campo do CAY ficou pequeno para o exuberante futebol de Oscar, que jogou em defesa da seleção dos técnicos. O técnico Telê Santana também estava lá e foi homenageado pelos organizadores da festa.

03.

Que o povo saia as ruas
e tome para si o destino da nação.

Também não pudemos dar a manchete que tanto almejamos. No entanto, modéstia à parte, Gazeta do Ipiranga foi um dos raros jornais a encampar a campanha das Diretas-Já ainda no início, em dezembro de 1983. A maior mobilização popular da história do País foi registrada passo a passo pelas páginas de GI e ocupou, por diversas vezes, toda nossa primeira página. O jornal acompanhou o processo de redemocratização do Brasil. Em novembro de 1984, o então deputado federal Roberto Cardoso Alves antecipava, em entrevista exclusiva a GI, a vitória, em janeiro de 85, de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, fato que poria fim à hegemonia dos militares e ao regime de recessão.

04.

Estado vai transformar favela de Heliópolis
em moderno conjunto habitacional.

Outra manchete que Gazeta do Ipiranga ansiava estampar numa de suas edições. Mas, faltou vontade política aos nossos governantes — e aqui incluo literalmente todos, de todos os matizes. O que fez GI ao longo dos anos? Denunciou o crescimento desordenado da maior favela de São Paulo desde sua origem como Núcleo Habitacional Temporário, criado pela própria Prefeitura nos idos de 1971. Os primeiros moradores vieram de um trecho da favela da Vila Prudente que precisou ser desapropriado para construção de um viaduto. Em 1978, Heliópolis, região urbanizada para ser área nobre do Ipiranga, já reunia mais de 10 mil barracos e, a partir daí, foi o caos.

05.

Fura-Fila começa a funcionar amanhã e
faz integração com Estação Sacomã do Metrô.

Essa é a manchete que ainda não demos, mas que certamente vamos dar. Não porque os tais homens do Poder querem e sonham. Mas sim, porque conhecemos nossa gente e a luta para fazer do Ipiranga um bairro melhor, onde seus habitantes possam ter uma respeitável qualidade de vida. Foi assim com a interligação da avenida Juntas Provisórias com as vias Anchieta e Imigrantes, pendenga que durou quase 40 anos, mas acabou saindo dos escaninhos oficiais para se tornar realidade. Um bairro de fé, onde a primeira santa brasileira, Madre Paulina, viveu, morreu e plantou a semente de sua vastíssima obra social. Um bairro de todos nós. Do qual nos orgulhamos de ser porta-voz desde a primeira Gazetinha, que circulou num 26 de abril.

06.

E lá se vão 50 anos…

O texto acima foi publicado em abril de 2002 e eu o transcrevo hoje para reverenciar o cinqüentenário de Gazeta do Ipiranga, jornal em que trabalhei por 28 anos. Mais importante do que a data, o texto e minha própria história é lembrar aqui, queridíssimos amigos com os quais convivi ali e já se foram…

Um belíssimo time de profissionais e de pessoas inesquecíveis: Marcão, Zé Jofre, AC, Nasci, Clamic, Ismael, Roggiero, Professor Fancisco, Made, Doutor Yasbek, Paulinho Pestape, Atílio, Seo Pádua, Seo Sebastião… E o vereador Chiquinho Batista que, antes de enveredar para a carreira política, fundou a então combativa Gazetinha.

Quem insiste em continuar por aqui – e trabalhou no jornal naqueles bons tempos – há de me dar razão na saudades e na certeza de que escrevemos a história daquele bairro, com as tintas da ética e do bom jornalismo.

Um abraço amigo para a dona Araci Bueno, diretora-presidente de tantas lutas.