“Tocar blues é ser negro duas vezes”.
Leio sobre a morte de B.B. King (aconteceu na madrugada de ontem) – e me emociono.
Talvez fosse mais exato dizer ‘entristeço’.
Nunca fui a New Orleans, não sou um aficionado por blues, mas tinha – e tenho – especial admiração pela trajetória de artistas como B.B. King.
Artistas verdadeiros são como um farol que ilumina e dá um norte à nossa vida.
Difícil pra caramba moldar em palavras o sentimento indefinido que nos invade quando alguma personalidade dessa dimensão se vai – e a gente sente que o mundo ficou mais vazio, mais pobre, menos promissor.
Imagino que mais pessoas se sentem assim.
Talentos únicos, raros, como o de B.B.King marcam época, são transformadores, nos fazem entender um pouco mais de nós mesmos e dos arredores, por mais distantes que estes sejam.
Falar da aldeia é falar do mundo.
II.
Não faz muito, senti a mesma tristeza quando cheguei ao Brasil (passara alguns dias em Portugal) e soube da morte de Antônio Abujamra.
Outro cara que espantava a mesmice, e era vigoroso no que se propunha a fazer.
Tipos assim mostram coragem a cada acorde (no caso de King), a cada palavra lancinante (como as que dizia o grande Abu, o provocador).
III.
Pinço a frase célebre do guitarrista para começar o texto.
E ouço a voz de Raulzito a fazer troça de um de seus músicos que fazia um entrecortado solo de guitarra enquanto esperava começar o ensaio para o show daquela noite, no Teatro Bandeirantes.
– Olha só! Baixou o B.B. King no cara…
“Não brinca com coisa séria”, respondeu o músico em tom de reverência.
Raul Seixas, outra dessas inigualáveis legendas que se foi.
E nos deixou um tantinho mais só.