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Babau

Tava mais do que na cara. Eu deveria saber. Na minha idade. Um cara como eu lavado e enxaguado nas águas do rio Tamanduateí, em tempos idos, quando transbordava e inundava a rua Ana Nery e adjacências, no Cambuci.

Que em 58 ouviu pelo rádio o Brasil ser campeão mundial de futebol e…

… viu na TV Record João Gilberto cantar Chega de Saudade.

Que em 68 correu da Polícia que corria atrás dos estudantes no Largo de São Francisco – eu não era estudante, ia para o trabalho de balconista numa loja de disco, ali, na rua São Bento; vi a correria, corri também.

II.

Pois então. Eu deveria imaginar. Não sou bobo, nem nada.

Em 78, já era um jornalista com alguma rodagem. Diagramava a Gazeta de São Bernardo, entre outras mil coisas que fazia à época pra ganhar uns trocados. Disse para o Marco Pichini que era o editor do jornal:

— Não vai dar certo. Não vai passar…

Pichini era garoto de tudo, e firmou posição.

— Diagrama as páginas aí e vamos em frente.

Jornal feito, rodado e impresso. Uma edição inteira sobre as greves do ABC e um tal de Lula, líder dos metalúrgicos. Era o começo do fim da ditadura militar no País. Mas, o dono da empresa preferiu não arriscar e a Gazeta não circulou.

Não disse "tá vendo, não falei" para o recem-promovido editor porque ele estava jururu jururu, mordendo o toco de um lápis num canto da redação. Sem noção. Mas, que eu avisei, avisei.

III.

Putz. Trinta anos se passaram.

Eu era mais malaco, no bom sentido, que hoje sou.

Com o tempo a gente perde a cintura.

Só pode ser…

Em 88, malandro que era, percebi que a coisa estava mal parada.

Fiz que ia mas não fui. De boa.

Foi o ano em que o Brasil homologou a nova Constituição, mas a grande expectativa era mesmo a eleição para presidente que aconteceria um ano depois. Tinha candidato bom de voto que só. O Sr. Diretas, Ulysses Guimarães. Leonel Brizola. Mário Covas. Roberto Freire. Um metalúrgico abusado que só, aquele tal de Lula das Greves queria ser presidente, entre outros.

Ah! Havia também o fio desencapado, Fernando Collor, que, por fim e com a ajuda do Sistema, acabou ganhando a eleição.

Nunca acreditei no jeitão amalucado que elle exibia…

IV.

Dez anos depois, em 98, eu já embicava para os 50 dando uns volteios pela Europa que ninguém é de ferro.

E agora estou aqui a lhes escrever essas mal traçadas.

No maior veneno.

Só para desabafar.

Que roubada!

Como fui cair nessa esparrela?

Euzinho, malandro da vez, o otário de sempre!

Acreditei que era verdade e não comprei dólar a 1,57. A dois reais que fosse…

Babau férias na Europa.

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