Já sei para onde correr quando bater aquela inexplicável sensação de efêmero que se instala naqueles que têm acima de 50/60 com bom currículo de histórias idas e vividas.
Soube pelo noticiário do fim de semana que o Bar Riviera deve reabrir na semana que vem no mesmo local – esquina da Paulista com a avenida Consolação – agora sob a tutela do chef Alex Atala e do empresário Facundo Guerra.
Eles bancaram a empreitada – e, assim, resgatam um tantinho da história da noite paulistana de priscas eras.
II.
Não tão priscas assim, me avisa o amigo Escova, preocupado em esconder os renitentes fios de cabelos brancos que insistem em sobrepor ao acaju da tintura que disfarça, mas não esconde o tempo de rodagem do amigo.
O Riviera existiu no mesmo batlocal, de 1949 a 2006. De início era uma casa de chá badalada onde as madames dos Jardins se reuniam para encontros e conversas vespertinas. Aos poucos, porém, foi ganhando fama, digamos, pela nobreza da boemia que ali fazia ponto. A nata do cast de artistas da então poderosa TV Record (anos 60) passava por ali, de Elis a Chico Buarque e outros tantos. Depois foi a vez da orda jornalistas, cartunistas e assemelhados que se dividiam entre o Sujinho (também na Consolação), o Pirandello (no baixo Augusta) e o indefectível Riviera, de portas sempre abertas aos nossos clamores existenciais e às confabulações sobre a redemocratização do País.
Foi um tempo mágico para os da minha geração. Andávamos pela casa dos 30/40 anos e sonhávamos – ah! como sonhávamos… – com um jeito bom de tocar a vida. O País entraria nos trilhos, era uma estão de tempo. E no amor seríamos todos mais felizes.
III.
Eu e os meus não éramos assíduos freqüentadores do Riviera.
Sempre recorríamos à Casa quando, madrugada adentro, outros bares, um após outro, nos expulsavam de suas mesas pelo pueril motivo de querer encerrar o expediente.
Ali, batíamos saideira.
E, não raras vezes, lapidávamos a utopia de um Brasil de todos os brasileiros.
– Agora só falta reabrir o Belas Artes, diz Escova, otimista convicto.
IV.
Não é bem assim, amigo.
Recende em mim – e, desconfio, nele também – a saudade dos amigos que se foram – e levaram um pedaço de nós.
É igual, mas diferente.
É assim.
Não há como conter o encontro das águas…