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Bate-papo com jovens

Por que os cronistas gostam de escrever sobre coisas que viveram no passado como se fossem, assim, mágicas, únicas?

Esses jovens de hoje nos fazem cada pergunta!

Falo a um grupo pequeno (oito ou nove rapazes e moças) que divide comigo e outros autores o espaço de um sebo (pois, eles ainda existem e me encantam) e a conversa gira em torno das crônicas do livro “Volteios” que lancei em dezembro do ano passado, na Livraria da Vila.

Fundamentalmente, meus textos giram em torno de histórias que vi, vivi ou mesmo inventei (a partir de algum fato real) e que habitam o tempo lúdico do passado.

O projeto do livro faz alusão aos meus 40 anos de jornalismo.

Quando ouvem que tenho tanto tempo de ‘estrada’, arregalam os olhos como se tivesse dito algo fora de qualquer concepção.

Espantam-se com minha longevidade.

II.

Uma moça sussurra para outra:

– Que idade, ele tem, 70, 80?

Me sinto um higlander, mas sigo em frente.

“Escrevo todos os dias. É assim que tento me entender e entender o mundo que me cerca. Depois, reúno os textos mais ou menos afins para a realização maior que é lançar um livro.”

– Livro, livro? De papel?

Preparo-me para a próxima pergunta que, me parece, inevitável.

E é!

Vem lá do fundo da roda.

– Mas, já não está no blog? Quem quiser que leia o post?

Não é bem assim, tento explicar sem muita convicção de convencê-los.

O livro em si é um universo. Propõe outro olhar para a mesma história que, imagino eu, ganha vida a partir de um contexto formado pelas crônicas que a precedem e estão depois dela.

Ouço um “hããããããã” generalizado – e penso que estou dispensado do interrogatório.

III.

De repente, a moça, após pinçar o seu smartphone com o indicador, sapeca outra questão transcendental sem levantar a cabeça:

– Você não tem facebook!!! Por quê?

Não tenho como conter o sorriso. Estava demorando.

– Sou das antigas, digo. Meu século acabou quando Frank Sinatra morreu.

Chegar ao blog e ao whatsapp já é um feito…

IV.

Não chego a concluir a frase.

Logo alguém encaixa a pergunta que abre as mal traçadas de hoje.

Tomo ares professorais para explicar

– A princípio, a crônica nasce como um registro cronológico dos fatos. O jornalista e cronista Carlos Heitor Cony fala que, muitas vezes, seus textos apóiam-se no que chama de matéria de memória e…

… E a roda, aos poucos, foi se desfazendo. Os poucos que ficaram a minha frente ou fuçavam no celular ou faziam cara de paisagem como se eu falasse em esperanto.

V.

Tomei-me em brios. É minha vez de fazer ao menos um questionamento:

– Então, garoto, me explique: por que vocês vieram a este Encontro com Autores? Qual o interesse de vocês em livros?

A resposta não foi das mais animadoras.

– Coisa da nossa professora. Ela vai dar um ponto na nota para quem visitar ou uma livraria ou um sebo. A gente veio ao shopping e viu a muvuca, entramos…

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