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Beatles, Stones e outras levadas – 2

Foto: Arquivo Pessoal

Em que ponto paramos nossa conversa de ontem?

Ah, sim…

A invenção do samba-rock.

Tenho uma tese polêmica sobre o tema.

Não existe samba-rock. Existe Ben Jor – e ponto.

Foi ele que invadiu a Jovem Guarda, eletrificou a MPB e abriu mentes e corações para o tal Planeta Música, aquele sem fronteiras e de possibilidades impossíveis.

O que veio depois dele no gênero foi cópia do sambalanço deste carioca de Rio Comprido.

Enfim…

Sigamos com meu breve inventário musical.

Meados dos anos 60.

Houve resistência, meus caros, houve resistências.

Os puristas da MPB, entre os quais a cantora Elis Regina, expurgaram o compositor carioca da chamada elite cultural brazuca– ele não pôde mais participar de O Fino da Bossa, programa comandado por Elis e Jair Rodrigues.

Era olhado com desconfiança nos festivais.

Quase um exilado entre os iguais.

Durou pouco o racha.

Mais cedo e mais tarde, não sei se lhes pediram desculpas. Mas todos caíram em si.

No ano santo de 1967 o Tropicalismo, dos baianos Gil e Caetano, determinou a geleia geral de versos, ritmos, comportamentos e afins.

Um (in)certo Sebastião Rodrigues já ousava a misturar baião com soul_music numa simpática e bem vinda heresia.

E assim, meus caros, se conheceu a voz poderosa de Tim Maia, o síndico.

Sob o tacão da ditadura, a MPB abriu-se para beber da fonte roqueira, incorporou a guitarra e os cabelos longos e desgrenhados.

Fez mais: promoveu a diversidade, o vale tudo.

Derrubou fronteiras.

Tanto que na década seguinte, sons e sonoridades do velho rock incorporaram-se, em Terra Brasilis, às estripulias dos Sec os & Molhados, às inquietações de Raul Seixas, encantaram-se com os mil_tons do mineiro Clube da Esquina, tergiversaram com a ruralidade de Sá, Rodrix e Guarabyra, eletrificaram o cordel pernambucano com Alceu e o paraibano Zé Ramalho, vivenciaram experimentos lúdicos com Walter Franco, filosofaram com Belchior e caíram na gandaia com os Novos Baianos.

Lá vem o Brasil descendo a ladeira.

Era tudo o que se possa imaginar – e era rock, sim.

Ou não?

Até Chico Buarque, em Jorge Maravilha, sucumbiu à libertação dos três acordes:

Caminhamos contra o vento, sem lenço e sem documento.

Os anos 80 saudaram a redemocratização e o rock tupiniquim como o hit do momento.

Rita Lee zoou bonito e reinventou o gênero, com apelos de marchinha carnavalesca.

Um estrondoso sucesso.

E vieram Lulu, Legião, Paralamas, Kid Abelha, Barão e Cazuza, Cazuza, Cazuza – talvez a mais emblemática figura roqueira da década.

Chegar à década de 90, o pós-desbunde, foi um sufoco.

Não havia mais limites – e a megaindústria do showbiz preferiu apostar em outros gêneros.

Mesmo assim, como segurar as arrebentações do Mangue Beat, o Skank (que bebe da MPB e do reggae), dos tais Hermanos (que são e não são), do Rappa (que é outra história). Dos meus preferidos Lenine, Zeca Baleiro, Moska, Marisa Monte – e Cássia Eller, que foi visceral como Maysa, transgressora como Cazuza; mas única e indefinível.

*Continua amanhã…

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