Foto: Divulgação
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Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes.
Eu o provocava.
“Isso não é um nome. É um título de nobreza.”
Dizia preferir ser apenas Belchior.
Assim todos o conheciam.
Simplesmente Belchior, para as artes. Música, poesia e telas – muitas, dele e de outros artistas, que tomavam todas as paredes, do teto ao rés do chão, da casa onde morou, próxima ao aeroporto de Congonhas, aqui, em São Paulo.
Foi lá que nos encontramos pela última vez.
Lá se vão quase 20 anos.
Levei um grupo de estudantes de Jornalismo para entrevistá-lo sobre o efervescente cenário musical brasileiro na década de 70.
II.
Entendo Belchior como o mais representativo cantor/compositor daqueles anos ásperos (pois, marcados pela censura e pelo regime ditatorial) e transformadores.
Havia uma cumplicidade entre autor e os jovens de então – eu, entre eles.
Seus versos eram os nossos versos. As nossas aflições, angústias, verdades, anseios…
Pertenceu ao que o jornalista Tárik de Souza definiu, à época, como a “Geração de Briga” da MPB.
Belchior e seus contemporâneos – Ivan Lins, Alceu Valença, Luiz Melodia, Raul Seixas, Sérgio Sampaio, Fagner, Ednardo, Gonzaguinha, Novos Baianos, João Bosco, Djavan, Jorge Mello, Geraldo Azevedo, Walter Franco, Eduardo Gudim, Djavan, Carlinhos Vergueiro, Diana Pequeno, Elba, Zé Ramalho entre outros – deram voz e vez ao canto de um povo sufocado pelos ditadores de plantão e seus cupinchas.
(Não era lá muito diferente do que hoje infelizmente vemos no País.)
III.
O disco Alucinação (lançado em 77, pela Polygran) rompeu as mordaças tanto nas emissoras de rádio como nas de TV. Sucessos como “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, “Como Nossos Pais”, “Galos, Noites e Quintais”, “Velha Roupa Colorida” e a faixa título “Alucinação” tiveram uma aceitação imediata de crítica e público.
A partir daí, Belchior tornou-se um dos principais nomes da cena artística nacional.
IV.
Eu o entrevistei várias vezes para os diversos jornais em que trabalhei.
(Clique AQUI para ler uma dessas reportagens)
Era um cara esclarecido, culto que dizia traduzir, em versos e canções, a verdade nua e crua daqueles dias.
“Mas, sem perder a poética”, me disse, certa vez.
– Sem perder a ternura, sempre, retruquei querendo lhe impressionar.
Que bobagem!
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Em outra ocasião, veio ao jornal em que eu trabalhava para divulgar o show que faria no Teatro Itália.
Seria algo mais intimista, acústico. Tempos menos densos. A redemocratização do País já era uma realidade – início dos anos 80. Ele entendia que já não cabia o grito, o escancaro; mas, sim, as sinuosidades dos sentimentos.
A palavra se sobrepondo à melodia, sem negligenciá-la, óbvio.
V.
Ao fim da entrevista, eu o comparei a um Bob Dylan tupiniquim.
Balançou a cabeça, e sorriu.
Desconsiderou:
– Sem comparações, disse.
– Sou de Sobral, Ceará. Brasil. E isso muda tudo. E é o que me basta: cantar e mudar as coisas é o que me interessa.
Despediu-se – e se foi dirigindo o Mini Gurgel de dois lugares.
VI.
Belchior morreu em abril de 2017.
Ontem, 26 de outubro, ele completaria 75 anos.
Sua música fala por ele – e por nós.
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* Atualização do texto originalmente escrito e postado em 30/04/2017
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