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Benito, os sambeiros e o romance do Paulão

O cantor/compositor Benito de Paula está com disco novo na praça – “Teia” – e, no bate-rebate dos 74, quer retomar o trilho de sucessos (“Retalhos de Cetim”, “Meu Amigo Charlie Brow”, entre outros) que marcaram sua carreira no início dos anos 70 e, de quebra, dar uma força para o filho, também músico, Rodrigo Vellozo.

Benito andava esquecido da mídia, perdeu a mansão onde morava no Morumbi (numa desapropriação do Governo do Estado) e ficou 20 anos sem gravar.

Ao lado de Wando, Antônio Carlos & Jocafi, Tom e Dito, Agepê e outros tantos e tamanhos, Benito fez parte da turma dos chamados “sambeiros” que imperavam nas paradas de sucesso, especialmente em São Paulo. A crítica especializada torcia o nariz para o som da rapaziada. Mas, os discos dos caras vendiam, os shows lotavam e espalharam-se por toda a Capital os tais “sambões”, casas especializadas nos hits dos bacanas.

O amigo Paulão me pergunta se os tais seriam os precursores dos pagodeiros de hoje.

Muita água rolou debaixo da ponte nesses anos todos – quase 50. Mas, eu diria que há pontos comuns, sim. Vale lembrar que essa turma – os sambeiros – teve lá sua importância. Nada, nada, eles abriram as portas das gravadoras e do showbiz para a explosão do samba em meados daquela década. Paulinho da Viola (“Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida”), Clara Nunes, Beth Carvalho, Alcione e mesmo Martinho da Vila, entre outros, nadaram de braçada nessas águas.

Lembro-me que no Festival Abertura, em 1975, as músicas mais festejadas pela plateia do Teatro Municipal (onde se realizou a finalíssima) foram “Farofafa” do falecido Mauro Celso e “Tamanco Malandrinho”, com Tom e Dito, bem no estilo popularesco dos tais sambeiros. E, olhem, que este festival tinha um aspecto vanguardista e se caracterizou pelo aparecimento de nomes de peso da MPB como Luis Melodia (“Meu Nome É Ébano”), Alceu Valença (“Vou Danado Pra Catende”), Djavan (“Fato Consumado”), Walter Franco (“Muito Tudo”). A vencedora foi “Como Um Ladrão”, de Carlinhos Vergueiro.

II.

O amigo Paulão ouve e agradece minhas informações – e se diz mais tranquilo.

Pergunto o porquê.

Ele, então, me conta que perdeu uma namorada por causa do Benito de Paula.

O Paulão não é crítico musical, mas nunca foi lá um entusiasta dos sambas-duros do Benito.

Ainda sem entender peço que me explique a história.

– É que o pai da moça adorava reunir os amigos nas tardes de domingo e nas festas familiares para uma churrascada embalados pelos hits daquela época. Ele próprio (o pai da moça), ao violão, repassava todo o repertório de Benito de Paulo e afins. O resto da gangue ia no embalo. Só no coral…

– E? – pergunto.

– Cara, quando ela me contou essa história e disse que se divertia a valer, que o pai era o máximo, o eterno ídolo e tal coisa. Desligou a chavinha da paixão em mim. Ela estava tão encantada, mas tão maravilhada com aquilo tudo que me vi, pelo resto da vida, sábados, domingos, feriados, natal e ano bom, confinado ao quintal de uma casa, ouvindo “êee, meu amigo Charlie… êee, meu amigo Charlie Brow, Charlie Brow…”

Comecei a rir ao imaginar a cena.

O amigo concluiu desolado.

– Ela era linda, mas não deu, cara. Desisti no minuto seguinte…

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