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Benjor

Benjor nasceu em 1989, por aí.

Quer dizer, o personagem.

O notável cantor e compositor, Jorge Duílio Lima de Menezes, nasceu um tantinho antes. Entre 1942 e 1943, no subdistrito de Rio Comprido, no Rio de Janeiro. Em março… ou dezembro.

Explica-se tanta imprecisão.

Este é um assunto proibido para o festejado autor de “Mas Que Nada”, “Que Maravilha” e tantas mais. Diz que seu tempo é hoje e tem muita lenha pra queimar, essas coisas.

A entrevista pode terminar antes, se ousamos tocar no assunto…

Aliás, um dia, eu conto o auê que foi a gravação do acústico da MTV, mais ou menos por esse motivo.

II.

No início dos anos 60, quando fundiu o samba à bossa-nova e inventou a negritude, esse ex-ponta direita do juvenil do Flamengo assumiu o codinome artístico de Jorge Ben. Como esclareceu na ocasião, Ben era o sobrenome etíope do seu avô por parte de mãe.

Com quase 30 anos de uma sólida carreira, nos idos de 1989, o homem reapareceu após uma viagem à África e se apresentou a nós, repórteres, como Jorge Ben Jor. Era terceira ou quarta vez que eu participava de uma entrevista com a fera, sempre simpático e solícito, desde que não se toque no assunto “idade”.

Como não sou ‘mané’ de perder a fonte, sempre fiquei na minha…

III.

Na ocasião, ele me pareceu rejuvenescido. Não tirou os óculos escuros – disse que foi recomendação médica — e explicou a mudança de nome, com uma história que, a mim, pareceu pouco convincente.

Na Mãe África, encantou-se com a lenda de um guerreiro africano que tinha esse nome e ele resolveu homenageá-lo.

IV.

Alguém resolveu falar em numerologia…

Ben Jor insistiu na conversa do guerreiro. Falou também que era um recurso da editora de suas músicas no Exterior. Porque muitas vezes, pela sonoridade, seu nome era confundido com o do guitarrista americano George Benson – e os direitos autorais acabavam indo para a conta bancária de Benson.

Boa praça do jeito que Jorge é, os repórteres esqueceram da questão e tocaram a conversa sobre o disco, muito adequadamente intitulado “Ben Jor”.

V.

Numerologia à parte, esse disco – especialmente o hit “W/Brasil” – marcou o reaparecimento de Jorge Ben Jor para a mídia. Conquistou toda uma leva de fãs que não tinham mais do que 20 anos – meu filho e sua turma, inclusive. E diria que foi quase um prenúncio da explosão dançante do ‘axé-music’. Com a eleição de Collor presidente, O País viveu um período de baixo-astral, emblematicamente representados pelos breganejos e afins.

A alquimia dançante de Benjor era uma benfazeja exceção.

VI.

Mais tarde, seu nome sofreu outra alteração: reduziu-se para Benjor.

Foi mais ou menos por essa época que fiquei sabendo do real motivo da mudança. Nem guerreiro africano, nem numerologia; nada a ver com Benson.

Simples de tudo.

Durante muitos anos, Ben pertenceu ao cast de artistas da Philips. Nos anos 80, migrou seu baticum para a Som Livre e depois para a Warner, onde houve a transformação. Um dos homens de marketing da gravadora teve a percepção que, embora os shows do então Jorge Ben estivessem sempre lotados, os discos lançados não alcançavam grandes vendagens. Fez-se uma pesquisa e se verificou o óbvio. Toda vez que saía um álbum de inéditas, a Philips lançava uma coletânea reunindo músicas das diversas fases do cantor/compositor. Acrescentava um ou dois grandes sucessos e confundia o consumidor…

Não sei se a mudança sanou o problema. Mas, foi uma bela jogada mercadológica…

VII.

Por que lhes contei essa história?

Não sei exatamente. Talvez porque uma das minhas sobrinhas disse ontem que foi numa “baladinha legal, de samba-rock”. E, pela milésima vez, eu tive que lhes explicar que samba-rock não existe. Existe apenas Benjor, primeiro e único. Os demais são cópias mal impressas. A repetir suas letras, suas musas, o time do coração e a inconfundível levada… Pior: alguns são cópias das cópias…

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