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Borges e a poesia

Ainda jovem, o escritor Jorge Luiz Borges sofreu um acidente – bateu a cabeça fortemente em uma janela de madeira que não estava fechada corretamente. A pancada foi tão forte que deixou Borges desacordado por instantes, com um grande corte acima do supercílio e o obrigou a algumas semanas de repouso absoluto.

Nesse período, o escritor argentino sentiu-se confuso e inseguro, receoso de nunca mais voltar a escrever.

Como viveria se mão pudesse exercer o ofício que o destino lhe designara?

Mais tarde, já refeito do susto, Borges confessou aos amigos que, em meio ao que chamou de ‘trevas’, havia pensado em uma estratégia para recuperar-se integralmente, e não deixar de produzir.

Inicialmente, tentaria um brevíssimo ensaio literário – algo que lhe obrigasse a usar os conhecimentos adquiridos do que propriamente uma narrativa mais engenhosa.

Poderia também tentar escrever um conto que tivesse um pé na realidade – alguma história que tivesse observado ou que um amigo lhe tivesse confidenciado.

Uma outra possibilidade seria inspirar-se em uma obra famosa para, a partir dela, soltar sua imaginação em um quase romance. Escolheria Dom Quixote, de Cervantes, “por que a figura do cavaleiro errante já é parte da memória da humanidade”.

Em meio a essas divagações, um amigo perguntou a Borges por que ele não pensou em começar escrevendo uma poesia, um poema – que são gêneros literários que se permitem uma maior liberdade de criação.

A resposta de Borges:

“Não pensei porque a poesia e o poema dependem mais da musa, do que ela nos sugere como sentimento, do que propriamente da capacidade ou não do autor se expressar.”

Faz todo o sentido.

A poesia e o poema não podem ser burocráticos.

Precisam ser apaixonados, e apaixonantes.

Talvez, por isso mesmo, estejam em extinção.

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