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Bossa nova – 2

Desconfio que o post de ontem sobre a bossa-nova ficou incompleto. Escrevi que “tucanei” em relação à bossa-nova e depois me pus comentar as primeiras canções de Benjor. De resto, me impressionaram mais do que a aparição de João Gilberto.

Que os ilustres fãs do mito me perdoem. Mas, não vou mentir.

À época do lançamento de ‘Chega de Saudade’, havia um programa na TV Record nas noites de sábado, apresentado por Randal Juliano. Chamava-se Astros do Disco, era uma espécie de parada de sucesso em que todos acreditavam. Não existiam play-back e vídeo-tape. Os cantores viviam a mesma expectativa que o público, pois obrigatoriamente iam lá defender suas canções, caso estivessem entre as mais vendidas e mais tocadas nas rádios. Como disse ontem, achei bacana a canção de João e torcia para que aparecesse entre as mais mais. Minha preferida, no entanto, era para “Sereno”, um dolente samba-canção, cantado por Paulo Molen. Falava de um homem apaixonado que fazia confidencias amorosas ao tal “sereno da madrugada”. Havia levado um pé na bunda da amada e, na letra, perambulava pela rua, abandonado, “triste e sozinho”.

Um dramalhão para os meus sete anos. Mas, que fazer? Sempre fui um coração mole…

II.

No início dos anos 60, quando apareceu a segunda geração de bossanovistas, confesso que troquei “o barquinho vai e a tardinha cai” para o que se entendia como “música de protesto”, assinadas pelos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.

“Mas, um dia vai chegar
Que o mundo vai saber
Não se vive sem se dar
Quem trabalha é quem tem
Direito de viver
Pois a terra é de ninguém”

Os versos fortes ganharam, posteriormente, uma versão definitiva na voz de Elis Regina – e aí eu capitulei de vez.

III.

Até a página 2, eu diria…

Porque logo vieram os Beatles e depois a Jovem Guarda, e me foi impossível escapar ao fascínio dos três acordes básicos que sustentam o rock. Uma explosão de alegria e juventude – especialmente para nós, adolescentes remediados do Cambuci e, ao que consta, para os jovens suburbanos do mundo todo.

Lembro que estudava comigo no antigo curso ginasial um menino talentosíssimo, Francisco de Paula Brandão Bisneto. Ele tentava de todas as formas me ensinar a tocar no violão os acordes e harmonias da bossa-nova, das canções de Tom Jobim, Carlinhos Lyra e outros. Um esforço em vão do amigo que tinha um violão da marca Di Giorgio, um luxo inimaginável para nós.

Eu, ruim da cabeça e doente do pé, me achava mais próximo do que cantava o Erasmo:

“Um dia, gatinha manhosa,
eu prendo você em meu coração.
Quero ver você,
Fazer manha então…
Presa no meu coração,
Quero ver você…”

IV.

O meu amigo, depois de grande, virou artista. Ator, músico, personagem infantil – era o Professor Porópópó.

Chamava-se Chiquinho Brandão…

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