Dou seqüência hoje à série Longer de Casa…
Mas, vou adiar a história de Ávila por alguns dias.
Espero que me compreendam. Gostei da temática e desconfio que tenho outros "causos" da mesma linhagem para lhes contar.
O primeiro aconteceu no Rio de Janeiro.
Se a memória me ajudar, foi em 1982 por ocasião do Festival de MPB Shell que a Globo realizou. Estava incumbido ao lado do repórter fotográfico Walter da Silva e do colunista Ismael Fernandes, especialista em TV, de cobri a final no Ginàsio do Maracanãzinho lotado de gente.
Para isso, viajamos alguns dias antes. Tínhamos de nos familiazar com os bastidores do espetáculo e evitar qualquer imprevisto. Queríamos fazer uma bela reportagem que prometo, dia desses, vou pendurar na seção Leia Esta Canção. Mas antes aviso aqui.
Passamos então a conviver com alguns tipos da noite carioca, amigos do Ismael que logo se tornaram nossos amigos também. Esses encontros eram sempre a partir das 23 horas num restaurante do Flamengo, um bairro sem muita tradição na área, digamos, cultural. Mas, o boteco, além de servir uma comida honesta e praticar um preço justo na área etílica, reunia um pessoal bom de papo e apaixonado por música popular brasileira. As conversas se prolongavam até altas horas.
Lembro que certa noite, lá pelas tantas, me surpreendi como o mais carioca dos cariocas a narrar a história da música Carinhoso, de Pixinguinha e Joao de Barros, a quem chamei o tempo todo de Braguinha na maior das intimidade.
Estava me achando, mermão.
A história é a seguinte.
O maestro Pixinguinha fez as duas primeiras partes da melodia de Carinhoso em 1917 quando ainda era um jovem promissor talento. Gostou da criação , mas deixou para finalizá-la depois. Largou-a por ali entre seus guardados.
Vez ou outra, lembrava-se da canção e a tocava em seus shows mais intimistas. Mais para não esquecer de vez a harmonia e a sofisticada divisão dos acordes. Explicava, porém, à platéia que a música ainda não estava como ele queria, mas não tardaria a finalizá-la.
O cantor Orlando Silva apaixonou-se pela canção assim que a ouviu. Procurou o compositor depois do espetáculo e lhe disse que gostaria de gravá-la.
Nada contra, disse Pixinguinha.
Seria uma honra e tal. Só que a melodia estava incompleta, além do que não possuía letra. Além do que, teria algumas gravaçoes marcadas para aquela semana e a outra e a outra. Mas, assim que desse ele a finalizaria para Orlando gravar. Palavra de maestro.
Orlando não se deixou convencer. Na semana seguinte, levou Braguinha ao show. Enquanto Pixinguinha tocava a música, o letrista foi lhe dando versos. Saiu assim, de primeira. Ao cabo do espetáculo, os dois encontraram-se para finalizar um dos maiores clássicos da música popular brasileia.
Corria o ano de 1937. Ou seja, vinte anos depois…