— Mas, por que Carnaval em Nova York?
O entrevistador do consulado americano não entende a pressa do brasileiro em conseguir o visto para sair do País justamente agora.
Faz uma expressão apatetada e completa:
— Não tem nada por lá. Só frio, muito frio.
O sotaque indisfarçável do gringo é evidente.
Do lado de cá da cabine blindada, o homem resume meio sem jeito.
— Para fugir da folia.
No fundo, no fundo, nem ele entende bem o motivo da viagem repentina. A bem da verdade, nunca foi um emérito folião. Aliás, também não era de morrer de amores pela data. Quando repórter cobriu Carnaval de rua e de salão (existia naquele tempo) por 16 anos seguidos, sem trégua. Até curtiu a novidade nos primeiros tempos. Nos demais valeu-se do chamado dever de ofício.
Aliás, na redação, comentavam sem entender que o seu humor só melhorava na quinta-feira. No que via as páginas prontas se encaminhando para a impressão, aí sim era sua vez de cantarolar antigas marchinhas e debochar do non sense das letras dos sambas enredos. E, quando a estagiária de plantão passava por ele, não se intimidava. Dava a voz a entonação do locutor oficial da apuração dos desfiles e proclamava em alto e bom som.
— Nota… Dez!
Todos riam, inclusive a estagiária, vaidosa a se sentir a própria Rainha da Bateria.
De uns anos para cá, distante da lida das redações, “pular carnaval” significa, para ele, exatamente isso: pular o carnaval. Tudo o que o seu desconhecido interlocutor, de hoje, não quer.
— Vou para Floripa. Também é bom, não?
— É ótimo, responde como um autômato.
— Visto concedido. Então, boa viagem para nós dois, não? Só mais uma perguntinha. Em Floripa tem folia, né? Adoro Carnaval…