Bem que nos ensina o filósofo contemporâneo Paulinho Moska (que, por esses dias, reestréia a série Zumbido na TV Brasil) em canção que, de toscas que são, as rádios pouco tocaram:
“É, pois é, meu bem,
Castelos de areia derretem
Quando a onda vem.”
De algum modo, por mais cético que somos, sempre estamos a imaginar coisinhas acima de nossas vãs possibilidades.
É natural do ser humano, creio; querer mais e mais e mais…
Não precisa ser o carro importado, a roupa de grife, o rolex de ouro, a conta bancária a estourar os cofres.
É bom também, claro.
Muitas vezes, porém, o objeto do desejo nos chega de outra forma.
— E que forma!,- exclama, ao meu lado, o amigo Escova ao ver a moça se achegar brejeiramente ao barzinho granfino, onde afogamos as mágoas após mais uma derrota do Palmeiras.
Somos do tempo dos botecos chinfrins e malafamados.
Por isso, não me sinto à vontade entre a garotada que, ao que parece, tem as contas em dia.
Ainda mais que Escova, o Dom Juan das quebradas do mundaréu, não tira os olhos da moça.
Que, diga-se, a bem da verdade, tem todos os requisitos para fazer um homem feliz.
Não vou me alongar em descrevê-los.
Deixo à imaginação dos meus cinco ou seis fiéis e amáveis leitores.
Até por que eis que adentra ao recinto um rapagote, com a silhueta de fazer inveja a um bem criado chester, de corrente chapeada no pescoço, bermudão e camiseta regata em plena noite garoenta. Belíssima e indefectível figura que faz a moça se abrir em sorrisos e dengos. E, pelo que pude entender, lá se vão os dois para a tal balada noite adentro.
Ao amigo Escova restou apenas a verdade absoluta dos versos do Moska:
“É, pois é, meu bem…”
(Para que vocês tenham ideia da tristeza do moço, continuamos a beber em silêncio. Sequer nos lamentamos o pênaltis que o Ewerton desperdiçou no finzinho do jogo.)
“Castelos de areia derretem
Quando a onda vem.”
** FOTO NO BLOG: Lucas Lima