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Caymmi

Para o menino, Dorival Caymmi era uma voz no rádio em que a mãe ouvia a novela e o pai o jogo de futebol. Entre uma novela e outra, um jogo e outro, havia os programas de música – eram mágicos. O menino, então, se divertia com a história do homem que não tinha “onde morar”, por isso morava “na areia”.

A idéia era ótima.

Devia ser legal pra caramba morar na praia, de frente para o mar.

O homem do samba também lhe parecia um bom sujeito. Dedicado que só. Imagina! Maria, que devia ser a namorada, morava “com as outras” e quem pagava o quarto era ele…

Mais crescidinho, o menino apendeu a letra de “Maracangalha” e gostava especialmente daquela parte que falava do “uniforme branco” e do “chapéu de palha”. O menino queria ser marinheiro – mesmo sem saber nadar, o que, aliás, não sabe até hoje – e pensou que a letra falasse de algum marujo apaixonado, de farda branca. Não entendia, porém, o chapéu de palha. Marinheiro usa quepe ou aquele boné esquisito sem a aba da frente.

Foi tirar a dúvida com o avô Carlito que era chapeleiro no Ramenzzoni.

O avô riu e disse tratar-se de “liberdade poética” do autor. Que o tal uniforme branco era, na verdade, uma roupa branca qualquer porque a cor caracterizava os malandros cariocas. Mas, também podia ser uma ‘fantasia’ para sair em algum cordão no Carnaval. Quanto ao chapéu, o avô não hesitou. Caymmi se referia, na verdade, ao chapéu panamá, outra das marcas registradas da malandragem.

O menino cresceu, virou jornalista e Caymmi passou a ser referência sempre citada nas entrevistas que fez com Caetano, Gil, Gal e os filhos do autor – Nana, Dori e Danilo. Foi a partir desses depoimentos que o jornalista se aprofundou na obra do compositor baiano que hoje nos deixou, aos 94 anos.

Outra das perdas imensuráveis que reforçam o panteão sagrado da MPB onde já estão Villa Lobos, Pixinguinha, Noel, Chico Alves, Cartola, Luiz Gonzaga, Elis, Tom e Vinicius e tantos outros que a fizeram maravilhosamente bela e universal.

Caymmi abriu ouvidos, olhos e o coração do Brasil para o som e as cores da Bahia. Inventou a baianidade; nos ensinou a revirar "os olhinhos" e a nos sentir um pouquinho "filhos de São Salvador".

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