Foto: Reprodução/Arquivos da Secretaria Municipal de Cultura
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Ocorre-me hoje escrever sobre o centenário da Revolução de 1924.
Para os historiadores, “a revolução esquecida”.
O movimento rebelde se deu no período de 5 de julho a 28 de julho de 1924.
Seria conveniente, portanto, aguardar a data para jornalisticamente fazer o registro.
Ando esquecido que só, péssimo de memória, então me antecipo e hoje mesmo faço o meu relato.
Espero que me entendam.
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Vamos aos fatos e às lembranças.
Os paulistas se insurgiram contra o governo do então presidente Arthur Bernades e seus rigores autoritários, entre outras questões de âmbito nacional.
Para tanto, não se furtaram a pegar em armas para fazer valer os princípios democráticos.
Resumidamente é isso.
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Ouço falar da Revolução de 24 desde os tempos de garoto.
Era assunto recorrente nas conversas familiares.
Meu pai era muito garoto, tinha sete anos quando se deram os bombardeios na cidade.
Decretou-se ‘estado de sítio’ e as pessoas viviam trancadas mas próprias casas a fim de evitar qualquer incidente.
A lembrança do Velho Aldo era a de todos dentro de casa, sem saber o que acontecia lá fora – e o vô Rodolfo preocupado em racionalizar os alimentos para a mulher Rosina e os filhos todos.
Havia uma reserva de latas de óleo, arroz, feijão, sal e açúcar.
Mas, com o recrudescimento dos combates, o temor era de que a revolução se prolongasse por um longo tempo.
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Já na família da Dona Yolanda, minha mãe, o roteiro foi outro – e igualmente dramático.
O vô Carlito e a vó Ignês eram recém-casados.
A igreja de Nossa Senhora da Glória no Cambuci, bairro onde moravam, fora parcialmente destruída pelos bombardeios e tomada pelas tropas legalistas (foto).
A população local temia o que poderia acontecer caso os rebeldes paulistas tentassem retomar o local tido como estratégico pela localização no alto de uma colina, próxima ao Centro da pacata São Paulo.
O casal Avezzani fugiu para Campinas na companhia de outros imigrantes italianos – e por lá ficou até que a situação se normalizasse.
Deu tempo de a primogênita, Yolanda, nascer na Capital em outubro daquele ano.
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Toda vez que essa conversa vinha à tona na casa dos meus avós havia a preocupação de tirar da sala as crianças, “pois não seria bom ouvirem essas coisas tristes” que tanto marcaram a vida daquelas pessoas.
Um resquício desse tempo: durante toda a vida, o pai tinha sempre uma reserva de latas de óleo, sacos de açúcar e sal na despensa de casa. Fosse qual fosse a situação.
Quando perguntávamos a ele se não estava exagerando nos cuidados, o Velho Aldo tinha a resposta na ponta da afiada língua:
– Essas lutas a gente nunca sabe bem como começam, e menos ainda quando vão terminar.
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O que você acha?