Montagem com o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral e o cartaz da Semana de Arte Moderna. Pinterest/Divulgação
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“A Semana de 1922 representa, intelectualmente, uma nova maneira de enxergar o mundo, vindo desse modernismo internacional. Enxergar fora do classicismo, sob uma nova ótica, fora do tradicionalismo, rompendo costumes atrasados e conservadores da elite brasileira. Ser ‘moderno’ e ver o mundo assim. Essa condição do olhar diferente, se demonstra na estética das obras”. Simbolicamente, traz esse olhar, esse vento de mudança”.
* Professor Italo Gomes, em entrevista para O Diário do Nordeste.
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45 anos depois…
Ano santo de1967.
Os festivais de MPB. Alegria, Alegria, Domingo no Parque. Os Irmãos Campos, poetas concretistas, Décio Pignatari – que seria meu professor na ECA/USP – discutem as parecenças entre o que propôs a Semana de Arte Moderna e o movimento da Tropicália ora em voga. Ambos são polêmicos, propõem a tal antropofagia na arte e na cultura. Os Parangolés do artista plástico Hélio Oiticica retomam a discussão da quebra de padrões na criação, a ruptura com o velho, com o tradicional…
Muita informação, bem vindas novidades para os meus 16, 17anos.
De boa, amava essas pendegas, mas não conseguia juntar lé com cré.
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Ok.
Reconheço
Foi o Tropicalismo dos baianos Caetano, Gil, Tomzé que me fez ouvir, pela primeira vez, as referências à Semana de Arte Moderna de 1922 – evento realizado no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 e 17 de fevereiro daquele ano.
Era um garoto de mentalidade mediana, um rebelde sem causa, fã de música popular brasileira, dos Beatles e de Ottis Reading. Leitor mais ou menos assíduo, mas desprovido de maiores informações sobre o contexto social que vivíamos, as escolas literárias, a função social e transformadora da arte e da cultura e outras generalidades importantes e afins.
Vale lembrar que, em 67, estava em curso o recrudescimento da nefasta ditadura militar, da censura aos jornais e às artes em geral, e às vésperas da implantação do AI-5, grau máximo da repressão no país.
Em minha frágil defesa, diria que que costumava frequentar as bibliotecas municipais da Aclimação e do Ipiranga em busca dos exemplares de capa dura e verde nas estantes empoeiradas, com as obras de Machado de Assis, José de Alencar, Manuel Antônio de Almeida, Aloízio de Oliveira, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, Júlio Dinis, entre outros.
Era o que tínhamos à disposição para a leitura nossa de cada dia.
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Dois ou três anos depois, a consciência da coisa toda me chega no embalo das aulas do cursinho para o vestibular. Especialmente nas performances da professora de Literatura Brasileira, a Semana de Arte Moderna nos é apresentada com ares de libertação.
Bem ao meu jeito, e com algum estranhamento, acrescento, a partir dalim ao meu rol de autores como Menoti del Pichia, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e outros que me introduzem no alumbramento das transformações modernistas.
(Destaque para a poesia de Bandeira e Drummond.)
Descubro, então, um amplo apelo à brasilidade.
Diria melhor, se me permitem: à universalização da brasilidade.
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Uma coincidência: o poeta Guilherme de Almeida havia sido paraninfo da minha turma no ginásio do Colégio Nossa Senhora da Glória.
Aliás, quando, todo gabola, comento o fato com os professores do Etapa, eles nada dizem.
Lançam um olhar desconfiado, enigmático, entre eles e depois para mim.
Fico na dúvida:
Acham que estou inventando.
Ou que Almeida não foi lá um modernista de primeira linha.
Ou…
Sei lá!
Talvez já estivessem intuindo a tal revisão da importância histórica do movimento que hoje insistem em fazer.
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Fico surpreso?
Nem tanto.
Tenho lá certa desconfiança do tal ‘rigor histórico’.
Mas, não dá para negar que…
… lá se vão 100 anos.
E a polêmica persiste.
Não sei bem o que se tenta provar.
Sei que, de um jeito bem pessoal, desde então, me senti mais próximo das letras, das artes e da vida. A partir da obra desses intelectuais, pintores, escultores, músicos e escritores. Nomes como os de Anita Malfatti, Graça Aranha, Heitor Villa-Lobos, Di Cavalcanti, além dos já citados, que se reuniram naquelas noites para mostrar suas obras e releituras.
Que, abençoadamente, ainda provocam discussões – e nos fazem pensar o Brasil.
Mesmo que nossa Anita agora seja outra…
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O que você acha?