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Chovendo na horta – O rock do Paralamas, que sacudiu até os europeus.

Dos tempos difíceis, quando faziam o circuito alternativo do rock em Sampa (“Cansamos de tocar no Vitória, Rose Bombom, Radar Tantan”), ou buscavam desesperadamente uma condução na Rua Augusta em plena madrugada, com a aparelhagem a tiracolo, restaram apenas as boas lembranças. Hoje, confortavelmente instalados num hotel cinco estrelas, Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone falam de um feito inusitado, único entre as bandas de rock nativas. Em julho, apresentaram-se no Festival Internacional de Montreux (Suíça), e literalmente sacudiram uma platéia de 3.500 pessoas vindas de toda parte da Europa. Dessa experiência marcante, surgiu D, o tão almejado disco ao vivo de Os Paralamas do Sucesso – na verdade, o quarto LP de uma carreira “repleta de momentos mágicos”.

“Tudo tem acontecido no tempo certo, com a sorte ao nosso lado”, regozija-se o band-leader Herbert Vianna. “Mas, convenhamos, temos feito por merecer. Estamos atentos, preparados mesmo para não desperdiçar as oportunidades. Desde o primeiro disco (Cinema Mudo/1983, que consagrou o hit Vital e Sua Moto) tem sido assim. O Rock in Rio, por exemplo, projetou nosso nome até em níveis internacionais, enquanto para outras bandas não houve qualquer proveito. Ao contrário.”

A idéia do disco ao vivo vinha sendo cultivada há algum tempo. Os Paralamas são super-respeitados pelas performances em shows e, especialmente, depois da ótima repercussão dos LPs anteriores – O Passo do Lui e Selvagem -, o projeto começou a tomar corpo. E consolidou-se mesmo com o convite para participar da Noite Brasileira de Montreux, juntamente com os estelares César Camargo Mariano, João Bosco e Beth Carvalho.

“Foi como atirar uma moeda para cima”, lembra Bi Ribeiro. “Era tudo ou nada. Tínhamos uma hora para fazer o show sem erros, com toda aquela parafernália técnica. Era a nossa chance de ter um disco ao vivo de ótima qualidade. Ou então voltávamos ao Brasil para refazer nossos projetos deste e do próximo ano.”

REGRAVAÇÕES – Mais uma vez, Os Paralamas souberam agarrar a sorte com unhas e dentes. Ao longo das nove faixas, esbanjam competência e determinação. D traz como novidade apenas uma música inédita, Será que Vai Chover (Herbert Vianna), já bastante executada pelas rádios, além de uma ousada releitura para Charles, Anjo 45, um clássico de Jorge Ben, que nos idos de 60 recebeu uma versão definitiva na voz de Caetano Veloso.

“Faz parte de um projeto nosso regravar canções de que a gente gosta, de pessoas que a gente curte, admira”, comenta Herbert. “No disco anterior, escolhemos Você do Tim Maia, e demos uma levada bem nossa no arranjo. Agora, gravamos o Charles, Anjo 45 porque continua muito atual, tem tudo a ver com o que tá rolando por aí. E até com o nosso momento também. Na verdade, a gente tem um projetão de fazer um LP só com músicas de outros autores. Mas, é algo bem mais pro futuro.”

Por enquanto, as expectativas e a proposta de trabalho estão concentradas no disco ao vivo. Nele, repassam com maior intensidade a trilha que desbravaram em Selvagem e que funde o pop-rock com a cadência rítmica da ponte sonora que une África/Brasil e Jamaica. Aliás, essa brasilidade, que definem como universal, é hoje marca registrada do grupo.

“É o que convencionamos de retro-tropicália – aquele fuzuê de guitarras elétricas e instrumentos de percussão que às tropicalistas saudaram há 20 anos”, justifica Herbert. Aos poucos, com as andanças dos Paralamas em shows por todo o País, os três perceberam que de nada lhes valia “o ranço colonialista” que possuíam. Foram abrindo os olhos para os contrastes de um Brasil que até então desconheciam. E passaram a reconhecer a importância do trabalho de João Bosco, Jorge Ben, Gilberto Gil, a saborear o suingue africano/jamaicano (“Que, afinal, é brasileiro também”), a cultuar a própria latinidade.

MUITOS PALCOS – Somente neste ano Os Paralamas se apresentaram em nove países – Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, França, Espanha, Portugal, Estados Unidos e Suíça. “Tocar no exterior é algo um tanto mágico. É assim como começar de novo. Não há o apoio da música que toca nas rádios, nem se é conhecido. Então, o que vai segurar é a nossa performance ao vivo.

Vale o desafio”, pondera Bi Ribeiro, salientando a “fome de palco” que está levando o grupo a se apresentar por todo o Brasil. Tanto nos shows como no disco, há a participação do tecladista João Fera, uma espécie de quarto paralama, desde Selvagem. Há também, só no disco, a canja especialíssima do saxofonista George Israel, do Kid Abelha, na faixa Ska.

“Os Paralamas – especialmente Herbert – aprenderam a não fazer qualquer estimativa. Quando Selvagem foi lançado, Herbert apostou com o pessoal de marketing da Emi/Odeon que a vendagem não ultrapassaria 500.000 cópias. Semana passada, às vésperas do lançamento oficial de D, teve que pagar a aposta: percorreu nu o estacionamento da gravadora, providencialmente deserto àquela hora. Selvagem está na faixa dos 600.000 discos vendidos. E o guitarrista não quis correr riscos “de trazer maus fluídos” ao novo lançamento.

* Revista Afinal

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