Tranquilizem-se, caros leitores.
Estou de volta. Mas, prometo não tocar em assuntos esportivos por uns bons tempos.
Afinal, a vida não é tão ruim quanto sugere uma decisão por pênaltis.
Permitam, pois, que eu lhes dê uma sugestão de leitura.
Para esquecer a recente decepção do selecionado, para esses dias que restam das férias de julho e – quiçá – para o resto da vida.
Trata-se da nova edição de os Cadernos de Literatura Brasileira, publicação semestral do Instituto Moreira Sales. Desta feita, dedicado ao jornalista e escritor Rubem Braga (1913/1990).
Sou suspeito para falar; adoro crônicas e o considero nosso melhor cronista.
Saboreei cada uma de suas cento e tantas páginas.
Uma delícia. A trajetória bragueana é contada, com esmero e reverência, e tem a participação de Humberto Werneck (“O Urso de Ipanema”), José Castello (“Braga na Fronteira”), Sérgio Augusto (“Flautas, Melancias e Colibris”), entre outros colabores.
Separei um trecho que mostra bem o delicado artesão de sentimentos e vivência que é Rubem Braga.
Ao responder a uma publicação da época, Rubem escolhe as dez coisas pelas quais vale a pena viver.
Vejam: 1. certas comidas de infância: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana, por exemplo; 2. sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha; 3. receber uma bola imprevista no meio da rua e responder com um chute perfeito; 4. ler, pela primeira vez, um bom poema; 5. ou uma bela prosa; 6. o momento em que um grande amor vira uma grande amizade, e aquele que uma grande amizade vira um grande amor; 7. desapaixonar-se por uma mulher que apenas lhe causa aflição; 8. viajar; 9. voltar; 10. para um europeu, voltar para Paris; para um brasileiro voltar para o Rio de Janeiro.
Reparem na fina ironia do item 3.
Por certo, os craques brasileiros não deram a mesma relevância que o Velho Braga dava “a um chute certeiro”.