De surpresa, em meio a uma reunião de alto escalão, tocou o celular.
Atendeu desconfiado. Não havia registro do número.
Era ela.
Balançou geral ao ouvir aquela voz que um dia lhe disse "fui". Pediu licença, era pessoal, um caso de urgência, precisaria atender em outra sala.
Ela foi direta ao ponto.
– E aí sentiu a minha falta?
Engoliu seco e não mentiu:
– Sim e não, respondeu. – É mais ou menos assim. Como se eu tivesse ganho, lá nos antigamente, um cinzeiinho azul. Durante todos esses anos o cinzeirinho azul esteve na minha mesa de trabalho. Nem fumar eu fumo. Mas, aprendi a conviver com ele. De repente o cinzeirinho azul quebrou. Fiquei triste pra caramba e, confesso, por vezes senti muita falta dele. Pois então, se até com o objeto a gente se acostuma, como é que eu não vou sentir a falta de quem eu tanto amava?
Gostou do que ouviu. Fez alguns instantes de silêncio e, timidamente, como as mulheres fazem sempre, propôs a reconciliação.
Ele aguentou firme. Peralá, sofrera o que sofrera, não foi em vão. Agora estava se aprumando e coisa e tal. Fez questão de explicar que, depois de partido, o cinzeirinho azul nunca mais seria o mesmo. Estava acabado. Não adiantava colar…
Foi então que ela disse:
– Mas, pense de outra forma. Digamos que, na verdade, o cinzeirinho azul não quebrou. Apenas sumiu por uns tempos, alguém roubou, ou qualquer coisa do gênero. Agora, por uma coincidência qualquer, você torna a encontrá-lo. Não seria bom? Não seria legal voltar aos velhos tempos?
E o bestalhão… voltou.
•Descaradamente inspirado na crônica “Cinzeirinho Azul”, de Stanislaw Ponte Preta, publicada no livro “Primo Altamirando e Elas”. Explico o porquê: segundo o Instituto DataRodolfo, 98,9 por cento dos meus fiéis cinco ou seis leitores adoram uma historinha de amor com final feliz. Especialmente quando é a mulher que faz e acontece.