Jornalistas são céticos por dever de ofício. De uns tempos para cá, no entanto, deram para adorar um número redondo. Logo querem transformá-lo em efeméride, pronta a ser saudada por série de reportagens.
Desconfio que tudo começou lá trás, com o milésimo gol de Pelé. A partir daí e, pouco a pouco, a coisa foi tomando jeito e corpo. “Cem dias do governo de Fulano”, “Os duzentos jogos do Beltrano”, “A quinquagésima edição do livro do Sicrano” e por aí vai…
Não acho ruim tal expediente. Sugerem pautas diferenciadas do noticiário do dia, dão um sacode na memória, revitalizam a cultura, valorizam os passos que fizeram (e ainda fazem) o caminho.
Nosso modesto blog, sempre que pode e vale à pena, se embaraça na poeira do tempo para reverenciar nomes e obras que merecem destaque. Neste ano, saudamos, entre outros, o centenário de Rubem Braga e de Vinicius de Moraes, além do cinquentenário do elepê (sabem o que é isso, rapaziada?) de estreia de Jorge Ben (hoje, Benjor), o imbatível “Samba Esquema Novo”.
Mesmo assim, e olhe que já estamos em dezembro, íamos terminando o ano sem reverenciar os 100 anos de nascimento de dois grandes e saudosos nomes da música popular, Ciro Monteiro e Wilson Batista.
Monteiro nasceu em 28 de maio de 2013 no Rio de Janeiro. Foi intérprete de sucessos como “Se Acaso Você Chegasse” (Felisberto Martins e Lupicínio Rodrigues), “Beija-me” (Mario Rossi e Roberto Martins), “Escurinho” (Geraldo Pereira), entre outros tantos. Viveu a Era de Ouro do rádio brasileiro (anos 40 e 50) e se caracterizou por um jeito personalíssimo e coloquial de cantar samba. Além do que, o homem era uma simpatia e, de quebra, parecido com meu avô Carlito.
Outro carioca da gema, o compositor Wilson Batista nasceu em 3 de julho e, no entender do jornalista Ruy Castro, seu único pecado foi ser contemporâneo de Ary Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo, Orestes Barbosa e Braguinha, “tão bons de samba quanto de cartaz”. Por isso, o autor “Louco”, “Acertei Na Milhar”, ”Oh, seu Oscar”, “Pedreiro Valdemar” e outras mais tenha ficado esquecido do grande público. Um erro que precisa ser reparado a bem das novas gerações.
Batista morreu em 1968; Ciro em março de 1973.
Nossa música popular não seria a mesma sem a radiosa contribuição de ambos.
Um povo que não conhece sua história perde a identidade como Nação.
Não se reconhece independente e soberano.