Foto: Reprodução da tela ‘Operários’ (1933) de Tarsila Amaral
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Tá com tempo, campeão?
Faço uma pergunta.
O que sabemos sobre o passar do tempo?
Sobre o tempo que o Tempo tem?
Nadica de nada.
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Somos voluntariosos na vã tentativa de entendê-lo.
Mas…
Ora não temos tempo para pensar no Tempo.
Ora, se nos sobra tempo para pensar no Tempo, achamos que há algo de errado com a gente.
Durma-se com um barulho desses.
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Quando criança, não temos noção.
Deixamos que o Tempo nos embale em fantasias e brincadeiras.
Tempo do Natal (como agora). Tempo do Carnaval. Tempo das férias. Tempo de estudar, da escola, da lição de casa.
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Lá naqueles idos em que me chamavam de Tchinim, as brincadeiras tinham o tempo certo.
Tempo de empinar pipa, de rodar pião, de bolinha de gude, das figurinhas, do carrinho de rolimã…
Só o futebol era o tempo todo, todo o tempo.
Dizem-me que as crianças de hoje não têm tempo, têm compromissos.
Lamento.
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Aborrecentes, pensamos no Sr. Tempo que está por vir.
Que chegue logo.
Queremos porque queremos ser gente grande.
Fazer e acontecer.
Que falseta!
Depois nos arrependemos, mas não tem jeito.
O Tempo que passa não volta.
Não insista.
Perda de tempo.
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No tempo do Velho Aldo, meu pai, diziam categoricamente:
‘A vida começa aos 40.’
Era uma forma de claassificar a passagem do Tempo.
Nunca prognosticaram onde era a linha de chegada.
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Talvez por isso – ou por presunção natural daquele tempo – os da minha geração cantavam e proclamavam em alto e bom som:
‘Não confie em ninguém com mais 30.’
Liberdade era uma calça (jeans) azul e desbotada.
Um conceito um tanto quanto troncho, mas que nos embalava.
Easy Rider, rapaziada.
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Nos meus quarentinhas, vixe, andava atarantado, tipo vira-lata atrás dos pneus dos carros que passam.
Perdidinho, mas pleno de certezas incertas.
É agora ou nunca”
(Nem uma coisa, nem outra. Vida que segue.)
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No 4 de dezembro de 2000, completei 50 anos.
Sem comemorações.
Passei aquele dia e aquela noite a escrever o texto final da minha dissertação de mestrado.
Prazo para depositar o trabalho pronto: dia 7 – e, pra variar, deixei para última hora.
Entreguei a tempo, aos 45 do segundo tempo.
Fui aprovado pela banca.
Sem louvor (que aí já era querer demais).
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Foi por essa época – ou pouco depois – que me identifiquei com uma crônica do Mário Prata em que o escritor saúda Gil, Caetano, Ben Jor, Milton, Paulinho da Viola e outros arteiros contemporâneos que chegavam aos 60 na pegada. Produtivos e inspiradores. Mudaram o conceito de envelhecer para a própria geração e para a turminha que vinha depois.
Faz todo sentido.
Hoje eles embicam nos 80, todos no estilo. Chico Buarque faz 80 em junho do ano que vem.
Continuam inspiradores.
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Quanto ao escrevinhador…
… diria, à moda do inesquecível Belchior, que o Tempo andou mexendo com a gente, sim.
Derrapo nos 73 e sou um areal de dúvidas.
Só insisto, por coerência aos meus passos, em usar o mesmo modelo de All Star desde os idos de 70.
E acredito, mas acredito mesmo, que é possível fazer um mundo mais fraterno e justo.
Apesar de todos os pesares, não é hora de desistir.
O Tempo é hoje, campeão!
“A felicidade é uma arma quente.”
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O que você acha?