Boa noite a todos…
É sempre uma honra – e um momento de imensa felicidade vê-los hoje não mais como estudantes, mas, sim, como colegas jornalistas…
Meus caros,
Semana passada, aqui, neste mesmo auditório, em solenidade idêntica, ouvimos o recado do patrono da turma do noturno, o jornalista José Hamilton Ribeiro. Ele não pôde comparecer, por motivo de doença em família; mas, mandou um pronunciamento em que destacava duas definições de jornalismo.
Uma francesa e outra italiana.
Para os franceses, jornalismo é a melhor profissão que existe para se sair dela…
A italiana é igualmente bem-humorada:
— Ser jornalista é maçante, chato mesmo, mas é melhor do que trabalhar…
Resolvi pegar o mote do grande mestre e buscar algumas definições de jornalismo.
A primeira vez que li sobe jornalismo foi na era pré Google. Vocês não eram nascidos. O pai da gente – que na verdade seriam os avós de vocês – compravam as chamadas enciclopédias, uns livrões coloridos e preferencialmente ilustrados, onde morava o saber.
Em uma dessas Barsas da vida, surpreendeu-me um título:
— Jornalismo é a expressão do pensamento social.
Demorei algumas décadas para entender a frase – e ainda hoje tenho sérias dúvidas sobre a tal.
Nas aulas de pós graduação, conheci uma variante do tema. Aliás, uma frase que o professor Valdir Boffetti gosta muito de usar:
— O jornalista é um mediador das demandas sociais.
Bonito, mas eu diria assim assim.
Na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ouvi outras tantas versões de acordo. Cada professor tinha uma.
A que mais me marcou – e não à toa – foi a do professor de telejornalismo, jornalista Vladimir Herzog, semanas antes de ser assassinado nos porões da ditadura.
Alguns alunos reclamaram de um trabalho que ele passou para um final de semana que anunciava ensolarado.
Ele rebateu:
— O jornalista precisa ir até o fundo do poço atrás da verdade. Senão, pode mudar de profissão.
Alguns mudaram de carreira – tenho um amigo que é dentista. Outros tantos insistiram – eu inclusive.
Meu primeiro editor, o velho comunista Antonio de Oliveira Marques dizia:
— Jornalismo é um exercício de humildade. Temos de ouvir as pessoas.
Nas redações por onde andei, especialmente no período da redemocratização, cultivávamos a frase de Cláudio Abramo, então editor da Folha.
— Jornalismo é indignar-se sempre.
Bem, como vocês vêem, há dezenas, centenas de definições para jornalismo.
Não ousaria lhes dar uma aqui. Não sei definir a profissão hoje em seus múltiplos fazeres, o que dirá o futuro que a Deus e a vocês pertence.
Mas, não sou cético. Não posso ser cético com a profissão que me fez e faz feliz. Fiz amigos, conheci pessoas interessantes. É a profissão do meu filho, a profissão de vocês…
Legal, né…
Aposto que quando vocês disseram que seriam jornalistas os pais acharam no mínimo esquisito, estranho. Mas, no fundo, no fundo gostaram da idéia de vê-los na telinha ou com o nome em letra de forma, assinando matérias nos jornais e revistas.
Eu também fiz assim. Falei para o meu filho fazer Direito, pensar concurso público, fazer Medicina – Medicina, não; que o curso é caro pra caramba… Mas, por dentro, pensei:
— Esse é o cara.
Como digo a cada um de vocês hoje…
— Vocês são os caras da vez…
Sejam felizes.
Mas, não esqueçam:
o respeito á verdade factual que Herzog ensinou…
a indignação profetizada por Cláudio Abramo…
e a humildade do Marcão, meu saudoso amigo…
Com seu trabalho, construam e escrevam a história de um novo tempo mais harmonioso, mais solidário, mais feliz.
* Pronunciamento feito ontem (04/03) durante solenidade de colação de grau dos formandos em jornalismo da Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo. Turma: Jornalista Júlio Veríssimo. Falei como coordenador do curso de Jornalismo. Foto: Mônica Rodrigues