"Gente é pra brilhar / Não pra morrer de fome" (Caetano Veloso)
01. O paulistano pode se preparar. Neste final de semana, a tribo dos Doces Bárbaros vai invadir nossa praia — leia-se aqui a Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera. Será amanhã, a partir das 18 horas. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa revivem o encontro histórico de 26 anos atrás quando, em turnê, viajaram por todo o Brasil e consagraram um repertório de sucessos como "Esotérico", "São João Xangô Menino", "Eu Te Amo", "Os Mais Doces Bárbaros", entre outros.
02. Achei importante o registro do espetáculo. Primeiro pelo óbvio cunho de importância que tem para a chamada música popular brasileira. É ótimo que essa garotada finque um pé na nossa História, especialmente em termos de arte e cultura, para que conheça um pouco mais o nosso País e a si própria. Me incomoda muito essa falta de identidade cultural que vejo grassar aos quatro cantos como se fossemos sobrinho do Tio Sam com o grande sonho de viver em Miami. Segundo, porque a entrada será franqueada ao público. Mas, quem quiser ver o show terá que fazer a doação de um quilo de alimento não-perecível para a Campanha do Natal Sem Fome que a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida vem desenvolvendo, e que é mais do que oportuna.
03. Para nós, cinqüentões, que vimos o visual hippie dos quatro baianos e nos encantamos com suas canções, sua rebeldia e disseminação da esperança em plenos anos 70, há outros bons motivos para ver/ouvir o espetáculo. Um deles é a natural constatação da fluidez do tempo, esse tal que não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém. Faz bem ver Caetano, Gil, Bethânia e Gal em cena com a mesma magia de um quarto de século atrás. Refletir sobre a solidez e coerência de suas carreiras e perceber que um homem é o seu trabalho. Aí, a gente pode pensar o que andou fazendo esse tempo todo, mas aí vamos entrar numa seara muito pessoal de conquistas e perdas, erros e acertos…
04. No entanto, podemos pensar em termos coletivos o que significa a relação homem/trabalho. Afinal, vem aí o novo governo sob a égide da democracia e da esperança. Pois é. O presidente eleito já tem os nomes que irão compor o Ministério no bolso do elegante paletó e promete anunciar nas próximas horas. Seria bom que, entre os escolhidos, tivéssemos senhores que entendessem o quanto é vital para a Nação que as taxas de desemprego baixassem a nível zero. Todo homem precisa ter um trabalho que o dignifique e honre. É um direito inalienável. Mas, também a mola propulsora de todo o desenvolvimento social. É por aí, creio, que o País vai retomar o prumo e se fazer soberano.
05. Há um verso de Caetano que sacraliza o trabalho (não sei se vai cantá-lo amanhã). Diz assim: E eu corri pro violão / num lamento / E a manhã nasceu azul / Como é bom poder tocar / um instrumento… Imagine, caro leitor, todos os brasileiros acordando com a certeza de que fariam o melhor no seu trabalho. Porque dessa contribuição viriam o pão, a casa, o estudo dos filhos, a saúde, o lazer e… a vida seria como uma canção que todos soubessem cantar…