Quero hoje lhes falar do cracaço Alex, que jogou no Coritiba, Palmeiras, Cruzeiro, entre outras equipes e deixou uma enorme saudade em seus torcedores, pelo fino trato da bola.
Parto da história que o rapaz está vivendo para propor algumas reflexões aos meus amáveis e fiéis cinco ou seis leitores.
Aviso, de antemão.
Para mim, ele seria o camisa 10 de todas as seleções brasileiras, de 2002 para cá.
Nunca entendi o descaso com que os sucessivos técnicos do escrete trataram o talento do boleiro nesses anos todos. Disseram que a fina amizade que ele dedica a Vanderley Luxemburgo foi o grande obstáculo. Não sei. Não tenho como saber.
A vida tem lá suas mazelas, sabemos bem.
II.
Pois então…
Por uma dessas mazelas do destino de cada um, o boleiro não vingou em um dos grandes-grandes da Europa como deveria, um Madri, um Barcelona, um Milan… E foi parar com sua bola redonda na Turquia – e lá ficou por oito longos anos. Fez história no tal Fener… Um momento que vou ao Google saber a grafia correta do nome do clube… Fenerbahce. Tantos foram os gols bonitos e decisivos e tamanhas as proezas em campo que o atleta ganhou estátua em praça pública há pouco mais de duas semanas.
Os torcedores o adoram, idolatram.
Só que, no início desta semana, o próprio Alex anuncia nas redes sociais que seu contrato foi rescindido, e que deixaria o clube sem maiores delongas.
O novo técnico (permitam-me não me dar ao trabalho de procurar o nome do fulano no Google) não tolerou a liderança natural do brasileiro entre os companheiros e junto à torcida local e o afastou em nome da nova ordem, do novo projeto.
O boleiro teve uma reunião com a Presidência do clube que endossou a postura do chefete do vestiário e ofereceu duas alternativas. Ele poderia treinar em separado até o fim do compromisso ou o liberaria para procurar outro clube.
Não durou três minutos a reunião.
Preferiu sair.
III.
Mudo o cenário, mas continuo no mesmo tema.
Dia desses, antes do episódio supracitado, encontrei um velho amigo nos bares da vida. Lá pelas tantas enveredamos a comentar sobre nossas trajetórias profissionais, alegrias e tristezas, feitos e desfeitos… Coisas de sessentões nostálgicos.
Lá pelas tantas senti uma (in)certa melancolia no semblante do meu interlocutor.
Infelizmente, nem tudo é exatamente como a gente quer.
Tentei mudar o rumo da conversa, em vão.
Não me ficou claro aonde a roda enroscou para ele, mas enroscou – e ele não conseguiu assimilar.
— Deixei parte da minha vida naquela empresa, ressaltou.
No ato, e de imediato, lembrei o Tonico Marques, meu primeiro editor, e uma máxima que dizia sempre que alguém se lamuriava que não lhe valorizavam o quanto merecia, fosse o patrão, fosse o chefinho de plantão, fosse a dona da pensão…
— Meu caro, a gente pode tudo nessa vida. Só não devemos esperar pela gratidão e pelo reconhecimento de ninguém. Se vier, será bem-vindo. Se não vier… Não há nada a fazer senão partir para outra.
IV.
Bola pra frente, Alex!
Há uma plêiade de clubes brasileiros interessada em sua arte.
Quanto ao meu chapinha, deve estar por aí a ruminar a tristeza das coisas que se perderam… (Ou seria só o efeito de um uisquinho a mais?)
Nada concluo, meus caros.
Deixo apenas o recado.
É uma situação que, mais cedo ou mais tarde, todos enfrentaremos…
O Benjor tem um samba-funk que dá a receita em versos e suingue.
Diz assim:
“Subir, descer, entrar, sair…
Faz parte do talento individual de cada um.”
Não sei se resolve, mas ajuda. Melhora o humor.