Essas conversas de elevador são sempre imprevisíveis.
Seguro a porta para que uma senhora que se aproxima a passos lentos aproveite a viagem.
Nunca a vi no prédio, mas reparo que o lugar não lhe é estranho.
“Mudou, mas não mudou muito”, diz para a acompanhante que se veste de branco, como se fosse pajem ou enfermeira da senhorinha.
Antes mesmo que a máquina se coloque em movimento, ela se dá conta que estou por ali – e não se faz de rogada. Vai logo perguntando:
— O senhor sabe quem quer alugar um apartamento?
Digo que não, mas ela não se intimida:
— O senhor é novo aqui?
Quase lhe informo que nada mais é novo em minha vida. Mas, me atenho a dizer que moro no prédio há pouco mais de dez anos.
Ela não se dá por vencida. Insiste na conversa
— Novo, pode se considerar novo. Morei aqui até 1989.
O elevador para no sétimo andar – e a senhora desce ansiosa por saber como os inquilinos deixaram o apartamento que ela alugara por tanto tempo.
Despede-se, mas antes observa, no indicador, o andar em que moro.
— Décimo nono. Alto, hein! Não sei se teria coragem…
Balanço a cabeça num gesto de admiração.
Mas, já há alguns instantes viajo em recordações. Por onde eu andava em 1989…
Trabalhava na Gazeta do Ipiranga, fazia frilas na Agência Estado. Escrevia para área de Cultura. Lembro que entrevistei uma penca de notáveis artistas. O Paulinho da Viola, o Jorge Ben (que nesse ano se passou a chamar Benjor), a atriz Mayara Magri, a Denise Fraga ainda uma garotinha que dava seus primeiros passos na TV. Entre outros trabalhos, fiz a cobertura do primeiro show de música sertaneja em uma casa de espetáculo de prestígio em São Paulo.
Chitãozinho e Xororó me receberam nos camarins do Olympia na maior informalidade. Enquanto conversávamos, eles bebericaram não lembro bem o quê, afinaram os instrumentos, conferiram qual seria o repertório (que terminava com a implacável “Fio de Cabelo” no meu paletóóóóóó) e até trocaram de roupa.
Soube agora que a Paula Fernandes se apresenta amanhã aqui em São Bernardo do Campo. E lamento profundamente que ninguém me chame para entrevista-la antes do show.
Ô laiá…